Segundo um provérbio chinês, o burro nunca aprende, já o inteligente aprende com sua própria experiência. O sábio, por sua vez, aprende com a experiência dos outros. Ao analisar os últimos cinco anos da história do Clube do Remo, qual dos três personagens do provérbio chinês o Remo se familiariza?
Para tristeza da apaixonada torcida azulina, nos últimos anos, o Leão não foi inteligente e, muito menos, sábio. O Leão, nesse provérbio chinês, mais parece ser o burro, já que não aprendeu com seus erros e nem com as experiências vitoriosas de outros clubes, que passaram por situações de fracassos semelhantes. Não é o Leão, como instituição, que merece as orelhas de burro, mas sim os homens que comandaram o clube ao desse longo e temeroso inverno que parece não ter fim.
Analisando os últimos anos, se constatou que os erros foram constantes e repetitivos. Oito técnicos – Sinomar Naves esteve duas vezes sob comando da equipe – passaram pelo Baenão nesse período e fica claro: intrigas entre técnicos e diretores, falta de continuidade no trabalho e apostas erradas são as explicações para nenhum desses treinadores darem certo. Alguns desses técnicos demitidos do Baenão deixaram claro: o clube precisa reformular o seu modelo de gestão. Com isso, deixar de ser burro, para virar inteligente e sábio.
Desde que foi rebaixado da Série C do Campeonato Brasileiro, em 2008, o calvário do Clube do Remo começou. A primeira tentativa de salvar o Clube do Remo veio com Sinomar Naves no dia 01/06/2009. Após um mês de férias forçadas depois da eliminação no Campeonato Paraense, o Remo se reapresenta sob o comando do novo treinador. Esperanças de dias melhores eram a tônica para suportar ver a equipe jogar com equipes amadoras do interior do Estado. Mesmo depois de ter formado uma base e passado esse tempo todo treinando, o time acabou perdendo o primeiro turno de 2010 em cima do maior rival, Paysandu. Erro trágico para diretores que só pensam no momento. Naves foi demitido sem hesitações.
“Era preciso ter dado uma continuidade. Não é perder o primeiro turno que o trabalho seria todo jogado fora”, afirma Sinomar Naves. Curiosamente, um pouco mais de um ano (e depois de Paulo Comelli e Givanildo de Oliveira), Naves retornou ao Baenão para fazer o mesmo trabalho no interior, mas voltou a ser derrotado em um quadrangular – dessa vez na semifinal – e foi outra vez dispensado.
A falta de sequencia no trabalho por, duas vezes, deixou o treinador chateado. “Tinha um planejamento traçado. No Independente de Tucuruí, perdi o primeiro turno, mas ganhei o campeonato. Nós sabemos o caminho correto. É só deixarem fazer. Futebol se resume em efetividade no trabalho e pagamento em dia. Infelizmente os nossos clubes estão sofrendo porque existe uma cobrança forte em cima de resultados. É preciso que o treinador tenha tempo para colocar todo o seu trabalho em prática”, ensinou.
Após a saída de Sinomar, o mineiro Flávio Lopes, técnico até então desconhecido no Estado, assumiu o Leão para dar continuidade no segundo turno do Parazão 2012. Flávio conseguiu fazer o time melhorar tecnicamente e foi campeão da Taça Estado do Pará. Na grande final, porém, acabou caindo diante do Cametá e, assim como todo a torcida, teve que esperar a desistência do Mapará da Série D para voltar aos trabalhos.
Foi justamente nesse intervalo de preparação que Lopes passou a não se relacionar bem com o vice-presidente de futebol da época, Hamilton Gualberto. A gota d’água entre os dois foi a divergência a respeito de fazer um amistoso de preparação contra o Paysandu, perto da estreia da equipe na Série D. Resultado: o Remo acabou derrotado tanto pelo maior rival, quanto pelo Vilhena (RO), no torneio nacional. Sem mais clima para continuar, foi demitido e saiu dizendo que “estava sendo perseguindo dentro do próprio clube”.
O comandante seguinte foi Edson Gaucho que, assim como o seu antecessor, enfrentou problemas relacionamento com a diretoria. “O Remo precisa se profissionalizar. Quando estive lá, tinha funcionário há mais de um ano sem receber, pedindo (ajuda) para a gente. O gramado não estava em boas condições e isso não é coisa para treinador ter que resolver, mas como se trabalha assim?”, questiona Gaúcho. Esse jeito durão foi desagradando alguns diretores que “achavam que Edson se metia demais”. Apesar de ter sofrido uma única derrota na sua campanha de seis jogos do Brasileiro, acabou caindo fora após ser massacrado pelo Penarol (AM) por 4 a 1. Torcedores fizeram protesto pedindo a saída de Gaúcho.
Para o ex-técnico, a manifestação, no entanto, foi armada pela própria diretoria como justificativa para mandá-lo embora. “Tenho certeza que iríamos subir com o time que tínhamos. Mais de 90% dos jogadores tinham essa confiança. Quem não quis subir foi o presidente (Sérgio Cabeça). Fizeram uma armação contra mim de torcedores pedindo minha saída”, acusou Edson. “O Remo, assim como o Paysandu, tem que ser administrados como empresa. Na minha empresa, se eu não pagar meus funcionários, vou à falência. É a mesma coisa no futebol. As pessoas ainda não dimensionaram o que é esse clube. Falta renovação”, opina. Em seguida, vieram Marcelo Veiga e Flávio Araújo, badalados treinadores, com ótimos currículos, mas que não serviram para fazer o Leão voltar a rugir. Uma pena…
Diário do Pará, 19/05/2013