Carrossel
Carrossel

A história recente do Clube do Remo tem sido escrita através de linhas tortuosas e imprevisíveis. Tirando os momentos de glória e pujança, existem muitos aspectos que deixam a comunidade azulina em estado de preocupação permanente. Um desses assuntos é a questão patrimonial.

Dono de uma verdadeira fortuna, o Clube do Remo tem enfrentado sérias resistências para desfazer-se de mais um pedaço de sua história: a área do Carrossel. Com o risco de virar “poeira”, como aconteceu na perda da sede campestre, para o pagamento de dívidas, este precioso espaço, localizado no coração nervoso da cidade e anexo ao estádio Evandro Almeida, volta novamente à tona, em um dilema ao melhor estilo “Vender ou não vender? Eis a questão!”.

Não é de hoje que a ideia existe, mas tem permanecido somente pela metade. No auge das investidas, o ex-presidente Amaro Klautau propôs a venda da área inteira (Baenão e Carrossel) para uma construtora. As propostas giraram, mas a oposição na época (2010) bateu o pé e o sonho do ex-dirigente em vender o estádio e construir uma arena no bairro do Aurá, não evoluiu.

Na gestão de Sérgio Cabeça, não se falou muito sobre o assunto. Cabeça chegou até a comandar o restauro do escudo do local, num trabalho doado por um torcedor azulino. Atualmente, na gestão de Zeca Pirão, os boatos ganharam mais destaque, ao descobrir-se que as dívidas do clube somam valores astronômicos para a realidade local.

Em princípio, houve o interesse de uma empresa da área farmacêutica. No entanto, o negócio foi descartado porque o grupo teve parte de suas ações vendidas para terceiros, que eram contra o negócio. Depois, três empresas da construção civil mostraram interesse, forçando o presidente Zeca Pirão a pensar seriamente sobre o assunto.

Zeca Pirão estuda melhor utilização

Diante dos fatos, não resta outra saída ao presidente do Clube do Remo, Zeca Pirão, que não seja prestar muita atenção nas propostas ofertadas. No entanto, segundo o cartola, o Remo dispõe de um patrimônio localizado em área nobre, que pode perfeitamente ser trabalhado pelo clube como fonte de renda e visibilidade. No entanto, é preciso buscar parceiros e empresas que tenham interesse no local.

“Estamos falando de uma área nobre para o clube e para o mercado da construção civil. Quero ver se consigo algum empresário para construir uma grande arena, com campo, que possa fazer chopperia, lanchonete. Quero alguém que esteja disposto a investir nisso”, afirmou Pirão que, junto à sua diretoria, propôs o negócio há tempos atrás, na intenção de conseguir certidões negativas junto às esferas federal, estadual e municipal.

Os anseios de conselheiros e diretores se unem em uma proposta coerente, que faça jus ao valor real do imóvel. A venda, se concretizada, poderá salvar as finanças do clube, que precisa desdobrar-se volta e meia para livrar a área dos temidos leilões. Os mesmos que vitimaram a área da sede campestre, em Benfica. Outra área também perdida com o tempo foi a localizada atrás do Baenão, onde se encontra atualmente um posto de gasolina.

Na visão do torcedor azulino, por estar subutilizada ao longo dos anos, alguns encontram na venda a salvação, enquanto outros resistem à ideia de desfazer dos patrimônios. “Acho possível vender o Carrossel. É uma área que não tem utilidade atual, está ali e não interfere diretamente no estádio. Com certeza a perda seria menor, mas o dinheiro muito bem-vindo”, avalia o auxiliar administrativo Roberto Ferreira.

O futuro está nas mãos do Condel

A decisão sobre o destino do Carrossel não diz respeito somente às vontades da atual diretoria do Clube do Remo. Qualquer assunto proposto relacionado ao Leão deve passar por uma rígida avaliação do Conselho Deliberativo do clube (Condel), que precisa debater junto aos conselheiros e definir se aprova ou não o negócio.

“Quem decide é o Condel. As propostas do presidente (Zeca Pirão) estão chegando para que sejam apreciadas pelos conselheiros. Vamos estudar com calma a melhor forma, seja no sistema de venda ou comodato”, garante Orlando Ruffeil, acrescentando que existem atualmente três propostas de compra. De acordo com o benemérito e pesquisador azulino, o sentimento tem sido favorável.

“Pelo o que percebi, o desejo é que seja vendido por um preço real, que seja, digamos assim, que vá ao encontro dos nossos anseios. Valorizando a área, e não por um preço aviltante. É um espaço supervalorizado, nobre em Belém. Tem que ser um preço justo. Nessas condições eu sou favorável, como a maioria”, aponta.

Segundo ele, caso o valor seja realmente o correto, o clube poderá dar um salto em direção ao futuro. “Com isso, o Remo tem como barganhar a dívida trabalhista e investir como um todo. Um CT, sede campestre ou no futebol. O ideal seria vender só o Carrossel e pagar a Justiça do Trabalho”, acredita.

A área possui aproximadamente 5 mil m² e tem o nome de “Carrossel” desde a década de 1980, quando o falecido empresário Bosco Moisés investiu no local, colocando uma enorme cobertura de lona e promovendo bingos e eventos. Na época, o clube conseguiu bons lucros com os aluguéis, mas na década seguinte o terreno foi sublocado, tendo sido recuperado na Justiça.

Diário do Pará, 29/09/2013