Renovar as esperanças de um time desacreditado pela sua própria torcida seria uma das tarefas mais indesejadas para qualquer profissional do futebol, sobretudo quando se imagina que o time em questão é detentor de uma verdadeira nação de torcedores, conhecida pelo apelido de Fenômeno Azul. O rótulo não é para qualquer um, assim como a responsabilidade de quebrar uma escrita indesejada para quem já foi sétimo colocado na Série A ou mesmo semifinalista de uma edição da Copa do Brasil.
Mas aos poucos a história do Clube do Remo vai se redesenhando e tem à frente um velho conhecido. Como técnico ou jogador, Charles Guerreiro é figura marcada no futebol paraense e já deu glórias ao próprio Leão Azul, dirigindo a equipe campeã paraense de 2007. Agora, no entanto, os tempos são outros e a necessidade de conseguir uma Série chega a ser assustadora, tal como os investimentos que a diretoria vêm realizando para conseguir esse objetivo.
De algoz a salvador, o técnico azulino embarcou em um projeto audacioso, mas com o futuro incerto. Deixou o Paragominas no auge, com o time recém-campeão do segundo turno do Parazão deste ano, em cima do próprio Remo, e passou a viver de amistosos, confiante que teria a devida recompensa.
Antes disso, porém, o técnico teve – e ainda tem – de passar pela velha e conhecida turnê que o Remo vive desde 2008, cumprindo amistosos locais, que começaram no dia 09/09, na vitória sobre o Time Negra, por 2 a 0, no Baenão. De lá o time prosseguiu enfrentando adversários da mesma envergadura. Ao todo, já foram nove jogos, sendo oito vitórias, um empate e nenhuma derrota.
O resultado, até o momento, é animador, mas requer avanço imediato, tendo em vista que a partir de janeiro três competições vão agitar os arraiais azulinos: Campeonato Paraense, Copa Verde e Copa do Brasil. E de nada vai adiantar se o time não conseguir seu grande objetivo: chegar à Série D para finalmente tentar sair do buraco mais fundo do futebol brasileiro.
Da defesa ao ataque, técnico exige marcação
A didática do treinador é fundamental para qualquer time, e no Clube do Remo, ao que tudo indica, Charles Guerreiro pretende montar uma equipe baseada na marcação forte e distribuída, acompanhando a tendência de grandes times nacionais e internacionais. Acabar com a figura do ‘atacante banheira’ ou do encostado, parece ser mesmo a maior das intenções.
“Nós temos que trabalhar e montar um time forte. Hoje em dia, todo mundo tem que marcar, tem que ter qualidade na marcação. Você vê, por exemplo, o Flamengo (RJ) com um treinador local e uma equipe sem muitos nomes de expressão, mas que vestiram a camisa. Existe o comprometimento devido a cobrança. No time, o meia tem que marcar, o volante, atacante, para irmos em uma sintonia só”, explica Charles Guerreiro.
O reflexo dessa tática de jogo, segundo ele, pode ser vista nos resultados dos amistosos. Apesar de muitos dos adversários não terem a mesma expressão azulina, o nível de competitividade deles e do próprio Leão há muito tempo já equivale, e a prova mais fiel é a ascensão de novos campeões, como Cametá, Independente e Paragominas.
“Fizemos nove jogos, ganhamos oito, empatamos um e sofremos dois gols, fora a vitória sobre o São Francisco, que o Remo não conseguia há muito tempo. Ninguém aqui vem dar espetáculo, isso é uma regra”, assegura.
Regra que o comandante tenta aplicar sobretudo nos garotos da base, uma aposta alta que carece de atenção, didática e confiança. Alguns deles já mostraram bom entendimento, como o volante Nadson, os meias Ted e Rodrigo, todos jogadores de defesa, marcação e também ataque.
Diário do Pará, 01/12/2013