O Clube do Remo pode ser enxergado como um microcosmo da política paraense. A cada dois anos, o clube sê vê envolvido por eleições internas que definem quem serão os responsáveis por planejar e comandar o Clube de Periçá nos anos seguintes. Pelo grande número de apaixonados e diversidade de opinião entre eles, seria lógico imaginar que as disputas fossem muito concorridas e o afloramento das paixões chegasse a render confusões. Mas não é sempre assim que as coisas acontecem.
Olhando o final de 2010, o leitor encontraria um panorama de disputa acirrada. Ao todo, mais de 1000 associados participaram da votação que definiu o Conselho Deliberativo. Este conselho eleito, com um universo de apenas 127 pessoas, votou posteriormente no presidente do clube. Com a vitória de Manoel Ribeiro sobre Hermes Tupinambá, a chapa eleita compôs o novo Condel e este escolheu o novo presidente do clube. Sérgio Cabeça se lançou como candidato, superou Henrique Custódio e foi eleito.
Como o mandato do Condel é de quatro anos, Cabeça disputará a reeleição buscando os votos de um conselho praticamente igual ao que o aclamou dois anos antes. Para muitos, esse panorama dará uma feição de decidida às eleições, mas até que os últimos votos sejam apurados e as urnas apontem o novo presidente, surpresas podem acontecer.
O médico e benemérito azulino Roberto Macedo, 74 anos, se adiantou à Cabeça e iniciou articulações e campanhas três meses antes. O atual mandatário azulino, por sua vez, conta com o apoio de boa parte do Condel, em que pesem os resultados ruins de sua gestão no futebol. Ao final da próxima quinta-feira, dia seis de dezembro, a Nação Azul de Belém do Pará saberá quem é seu novo comandante. Vamos conhecer mais um pouco dos candidatos ao posto para antever o que esperar mais à frente.
Provável novo mandato seria o último ato de Sérgio Cabeça
Sérgio Cabeça, 65 anos, é engenheiro concursado da UFPA. Sua história no clube começou há quase 48 anos. “Ingressei no Remo em 1964, como jogador de basquete. Conquistei mais de 15 títulos pelo clube”, relembra. Cabeça foi diretor de futebol azulino e por duas vezes presidente do Condel.
Antes de ser eleito em 2010, foi presidente de uma junta governativa que geriu o Remo e era um dos mandatários do clube à altura da conquista do tetra em 1996. “Reunimos alguns dos parceiros de junta governativa durante o meu mandato, mas infelizmente, os resultados não foram os mesmos”, lamenta Cabeça.
Sérgio afirma que sua gestão foi baseada em dois eixos, um deles era o futebol. “Inegavelmente é o carro chefe do clube”, define Cabeça, lamentando os resultados decepcionantes conquistados. No outro eixo, o do pagamento das dívidas do clube, ele afirma que conseguiu marcar um golaço. “Conseguimos pagar metade da dívida do clube. Estamos conseguindo patrocínios que vão permitir pagar os salários dos funcionários até o final de dezembro. Essa gestão serviu para sanear o clube”, afirma.
A posição de atual mandatário do clube lhe é favorável. Fechando contratos de patrocínio e planejando o futebol da próxima temporada, o presidente garante que a torcida já pode ver como será o Remo em seu próximo mandato. “Estamos investindo para já em 2013 colocar o time de volta na Série C. Em paralelo a isso, devemos ter uma recuperação do patrimônio do clube e a ampliação, com a construção de um CT”, disse o presidente azulino que afirma que esse é último objetivo dentro do clube do Remo e, tal qual fez o Ronaldo Passarinho, que foi vice-presidente do departamento jurídico do clube, pretende se afastar do clube após um novo mandato.
VICE – O administrador José Wilson Costa Araújo, 54 anos, mais conhecido por Zeca Pirão, jogou futebol na base azulina, mas até o convite para ser vice da chapa de Cabeça, não tinha histórico de participação na vida política do clube. “Como grande remista que sou, não poderia perder a oportunidade de ajudar o meu time a se reerguer”. Mesmo sem cargo no clube, tem propiciado reuniões com amigos, como Alexandre Marins, ex-diretor de marketing do Flamengo (RJ), para oportunizar parcerias ao clube. Vereador eleito pretende usar sua influência política em favor do clube.
Oposição: “Alguém precisava ter coragem”
Roberto Hesketh Cavaleiro de Macedo, 74 anos, é médico radiologista aposentado, além de empresário. Sua ligação com o Clube do Remo é antiga, e vem do seu pai que foi remador no clube. Na década de 60, durante a gestão de Rainero Maroja, foi convidado a começar a trabalhar nos bastidores e desde então assumiu diversos cargos no futebol, amadorismo e na parte social azulina.
Roberto, há alguns anos, estava afastado da direção do clube. “Sentia que não havia mais espaço para trabalhar lá dentro” afirma o Benemérito. “Mas as coisas chegaram a um ponto em que eu não podia simplesmente cruzar os braços. Alguém precisava ter a coragem de assumir o Remo nesse momento”, diz. Roberto arregimentou ao seu lado um grupo de conselheiros e ex-diretores insatisfeitos com a atual gestão do clube, como Max Fernandes e o médico Henrique Custódio.
Roberto também era marcado por revelar atletas oriundos dos estados vizinhos. “Do Amapá, nós trouxemos o Rildon, Jason e o Marcelino para o Baneão. Os atletas vinham pra cá desconhecidos e iam jogar em grandes clubes. Hoje, o caminho trilhado é o inverso”, afirma Macedo. O candidato a presidente condena ainda as importações em massa de jogadores e as constantes mexidas no futebol. “Não há resultado que apareça se a cada semestre o Remo formar um time novo. É preciso que se dê condições de fazer um trabalho continuado, pois só assim nascem os times vencedores” assevera.
VICE – Max Fernandes Junior, 39 anos, é empresário e representa a ala mais jovem entre os conselheiros azulinos. Max é sócio do clube desde os seis anos, e em 2000 tornou-se conselheiro. O candidato promete utilizar seus contatos como empresário a favor do clube. “Não estamos entrando nisso sozinhos. Temos diversos amigos do meio empresarial interessados em construir parcerias com o clube”, diz Max.
Diário do Pará, 02/12/2012