Zeca Pirão
Zeca Pirão

A polêmica envolvendo o clássico entre Vasco (RJ) e Flamengo (RJ), quando o árbitro não assinalou o gol vascaíno mesmo após a bola passar 33 cm da linha do gol, trouxe à tona a velha discussão sobre a responsabilidade que é colocada nas mãos da arbitragem durante uma partida e como o uso da tecnologia pode ajudar em lances duvidosos. Dirigentes, jogadores e pessoas que são envolvidas diretamente com o futebol paraense também entraram na discussão e se mostraram a favor do uso tecnológico na modalidade, mas também pedem uma atenção maior dos apitadores.

Para impedir que situações parecidas como as que ocorreram no Campeonato Carioca não se repitam na Copa do Mundo de 2014, a Fifa introduziu um moderno sistema de câmeras, que avisa a arbitragem se a bola entrou ou não no momento do gol. Entretanto, esse recurso requer um investimento que dificultaria a sua implantação no Parazão, por exemplo, que não é um dos estaduais mais rentáveis do futebol nacional.

Esse equipamento de 14 câmeras de alta definição tem custo de instalação de US$ 260 mil (aproximadamente R$ 622 mil) e de operação por jogo de US$ 3,9 mil (em torno de R$ 9 mil), segundo declarações de diretores da fabricante do sistema GoalControl-4D, a alemã Goal Control.

Para o presidente Zeca Pirão, do Clube do Remo, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) deveria ajudar os clubes e Federações na implantação desse aparato tecnológico.

“Sou totalmente a favor desse tipo de tecnologia no futebol, assim como o chip dentro da bola, que avisa o juiz se aconteceu ou não o gol. Se o custo é de milhões, acredito que a CBF tem condições de ajudar nesse tipo de situação, que só melhoraria o nível do futebol nacional”, disse.

Zeca Pirão é um dos críticos da arbitragem paraense. O mandatário pede juízes adicionais, que ficam praticamente do lado dos goleiros. Atualmente o Campeonato Paraense só conta com o árbitro, assistentes laterais e o quarto árbitro. Pirão vai além, pede quatro assistentes e dois apitadores em cada partida, além de dois assistentes de fundo de campo. Pirão também cita que é necessária uma maior capacitação da arbitragem.

“O ideal, para se acabar com qualquer dúvida ou algo parecido, é ter quatro bandeirinhas, sendo dois de cada lado, mais dois assistentes no fundo do campo e dois árbitros, com um ficando responsável por cada metade do campo. Isso gera custos? Claro! O ruim é perder um ano inteiro de investimento por causa de um pênalti mal marcado ou um gol onde a bola não entrou. Isso também tiraria a culpa só do árbitro central nas situações. Queria, também, mais treinamento desses profissionais, principalmente em conjunto, dando ênfase nesses lances polêmicos. O árbitro precisa entrar em campo mais preparado”, completa Pirão.

O volante Ilaílson também é favorável ao uso da tecnologia no futebol, porém, desde que ela se aproxime da perfeição e não continue dando margem aos erros, como acontece com a arbitragem.

“O árbitro é humano, pode falhar. Sou favorável ao uso do recurso tecnológico desde que ele seja exato. Caso contrário, se ficar gerando dúvida, polêmica e discussão, não adianta. Um lance pode destruir todo um planejamento de um clube, o esforço de nós, jogadores. Acredito que é preciso muito estudo para que árbitros e tecnologia andem lado a lado, proporcionando melhoria ao futebol”, disse o volante.

O presidente da Comissão de Arbitragem (CA) da Federação Paraense de Futebol (FPF), José Gilberto Guilhermino de Abreu, afirma que os árbitros estão passíveis de erros, como o que foi cometido pelo auxiliar Rodrigo Saraiva Castanheira, no clássico carioca. De acordo com ele, pelo menos por enquanto, o futebol paraense não tem condições de colocar mais dois árbitros de fundo nos jogos do Parazão, pois, além de precisar de um intenso treinamento, o custo é maior e prejudica, principalmente, os clubes pequenos.

“Esses árbitros que a Fifa implantou na linha de fundo precisam de bastante treinamento, caso contrário, não adianta, só faz atrapalhar. Além disso, existe a questão de que o custo com toda a arbitragem é tirado da renda dos jogos. Só um quarteto local, por exemplo, custa R$ 7 mil em um clássico Re-Pa e, com mais dois assistentes, esse valor aumentaria, onerando a competição. Imagine todo esse custo em um jogo no interior, Marabá, por exemplo? Os clubes não aceitariam”, alega.

No que se refere aos investimentos tecnológicos, Guilhermino de Abreu é favorável, mas acredita que o futebol do Pará está longe desse tipo de processo. Ele cita que, só uma bola com chip, custa US$ 4 mil (R$ 10 mil).

“Em um jogo são necessárias sete bolas. São quase US$ 30 mil se ela tiver um chip que avise o árbitro se foi gol ou não. Um equipamento eletrônico é fantástico no auxílio aos árbitros, mas é uma coisa que precisa de muito investimento. Isso ainda não chegou nos Campeonatos Paulista e Carioca, os financeiramente mais rentáveis, ainda mais aqui no Parazão. Quem sabe, no futuro, daqui há uns 3 anos, poderemos ter esse tipo de tecnologia? Hoje, um chip na bola ainda é um sonho no Pará”, lamenta Guilhermino.

Globo Esporte.com, 21/02/2014