Artur Oliveira Junior carrega o nome e o sobrenome de uma das maiores estrelas do futebol do Clube do Remo. Não é uma questão puramente de coincidência. Artur Junior é filho de Artur Oliveira, o “Rei Artur”, um dos maiores, se não o maior jogador da história recente do Remo.
No sub-20 azulino desde o começo do ano, Artur Junior tenta seguir os passos do pai. Além das dificuldades naturais para se firmar em um grande clube, em meio à pressão da torcida por resultados, ele ainda lida com outro tipo de pressão, que surge com uma brincadeira, embora com um tom sério.
“Se você fizer metade do que o teu pai fez… Vamos ver se tens essa moral!”, provoca um dos funcionários do Baenão, quando o garoto chega para treinar. Arturzinho sorri, acena e segue o seu caminho. “Já estou até acostumado, faz parte da minha vida”, diz, sobre os questionamentos da sua qualidade, comparando-o sempre com a genialidade do pai.
É uma carga a mais, mas é deste jeito “boa praça”, com humilde e bom humor, que o “filho do Rei” encara a rotina no Baenão. A estratégia vem surtindo efeito. Sem contar o jogo de ontem, pela semifinal do Paraense Sub-20, o atacante já havia feito 5 gols em 5 jogos com a camisa da principal categoria anterior aos profissionais do clube. A média de 1 gol por partida causa aquela sensação do dever cumprido. Ou melhor, parcialmente cumprido. “Comecei bem, né? Mas ainda tem um caminho longo pela frente”, diz.
A cada gol do filho, o pai, lá de Rio Branco (AC), se emociona a ponto de chorar copiosamente. “Minha mãe me liga, falo com o meu pai e ele já está chorando. Ela diz: ‘Teu pai está aqui, morrendo de chorar’. Meu pai é chorão (risos), mas sei que ele se emociona porque é o Remo, meu clube do coração e o dele também”, revela.
[colored_box color=”yellow”]Jogador nasceu no auge do sucesso do pai
Natural de Porto, em Portugal, Artur nasceu na época em que o pai fazia sucesso no time da cidade em campeonatos europeus. Hoje, tem 18 anos, 1,79m, 72 quilos, é destro, veloz e bom finalizador. Também agrega características do futsal, que é o raciocínio rápido e o drible curto.
Arturzinho, de fato, se apegou à fama de bom de bola da família e impressiona a todos os observadores dos jogos da categoria de base do Leão. A dúvida é se o estilo bom de bola vai lhe render sucesso semelhante ao do pai, mas o jogador foge da pergunta. “Digo que tenho dois técnicos, o do Remo e o meu pai. Entendo só o assobio dele, ele me orienta muito, passa dicas, vou aprendendo”, garante.
De uma família de boleiros, Artur Junior já sabe o que falar quando instigado a comentar sobre as inevitáveis comparações entre os estilos de jogo. “Não tenho a pretensão de repetir o sucesso do meu pai. O que quero é começar a minha história, com os meus méritos e as minhas dificuldades”, diz.
Se o filho terá sucesso no Baenão equivalente ao pai, só o tempo dirá, apesar de todas as previsões animadoras. O fato é que Artur recupera uma relação que anda um pouco esquecida nesta era de profissionalismo: a paixão pela camisa azulina. “Acompanhei meu pai no Vitória (BA), no Botafogo (RJ), mas quando passei a entender de futebol, meu pai já estava de volta ao Remo. Amo o Clube do Remo. Aqui vi meu pai jogar, ser campeão 100% (em 2004) e espero ser feliz aqui, como o meu pai foi”, conta.[/colored_box]
Artur aponta semelhanças com o filho
Do Acre, o “Rei Artur” falou sobre a genética que uniu, ainda mais, pai e filho. Artur Oliveira assina embaixo no talento do filho. “O Artur é louco por futebol, é disciplinado, correto e dedicado. Fico muito feliz, emocionado, em saber que ele está seguindo os passos que tive, mas o que importa é que ele é especial”, conta o pai.
Sobre o estilo de jogo do pai e do filho, Artur vê uma diferença básica. “Eu era mais um meia-atacante, o Artur é atacante, mas temos uma semelhança, que são as arrancadas. Acho que é parecido”, opina.
A característica de sair em velocidade, tabelando ou driblando os adversários, também é ressaltada por Artur Junior como a principal semelhança entre eles. “Concordo que é parecido. Vejo os vídeos do meu pai e fico louco”, diz.
Artur Oliveira, por sinal, faz o papel de pai-coruja, ao anunciar os feitos do filho. “Temos um grupo com familiares no WhatsApp (programa de troca de mensagens instantâneas) e anuncio os gols do Artur lá. Ficamos apreensivos, todos me perguntaram, e publico lá. É a maior alegria”, afirma.
O pai, inclusive, adiantou que, pelo fato do filho ter cidadania portuguesa, há um projeto de Artur Junior jogar em um time de Portugal e, quem sabe, figurar na seleção do país. Tenho contatos lá e tem muitos observadores que acompanham a vida dele. Diria que isso é possível, o sonho dele é jogar na seleção portuguesa. Ele tem condições para isso”, garante.
Para muitos, Artur Oliveira é o maior jogador da história do Remo. A discussão gera a boa polêmica em um clube que teve ídolos do porte do zagueiro Belterra, do atacante Alcino e do volante Agnaldo. “Considero que foi o Artur. Jogava demais”, diz o historiador e grande benemérito remista Orlando Ruffeil.
[colored_box color=”yellow”]Vaga garantida no time principal
Já está sacramentado: Artur Junior vai se integrar aos profissionais assim que terminar o Campeonato Paraense Sub-20. A ordem foi dada pelo presidente remista Zeca Pirão, também impressionado com o talento promissor do jovem azulino. A informação, aliás, foi confirmada por Paulinho Araújo, diretor das categorias de base. “O Pirão já autorizou. A ideia é segurá-lo aqui, com contrato assinado, para que ele brilhe no Parazão (em 2015)”, disse.
Arturzinho, no entanto, sonha em explodir já na Série D do Campeonato Brasileiro. “Quem sabe? Já convivo com a galera e eles são gente boa”, falou. O olhar clínico de Paulinho garante que Artur Junior tem condições de se tornar um jogador diferenciado. “Ele tem tudo para seguir os passos do pai. Na verdade, já está seguindo. É bom de bola, humilde, de boa índole”, assegurou o dirigente.
Artur pode ser mais um jogador a integrar a lista de joias raras preparadas na divisão de base remista e que explodiram no elenco profissional do clube. Recentemente, o atacante Rony foi um exemplo. Surpreendentemente, o garoto conquistou seu espaço, deixou atletas mais experientes no banco de reservas e acabou como revelação e a maior estrela do Leão no 43º título estadual do Clube do Remo.
“O que queremos é que o nosso time brilhe com jogadores daqui, da terra. É um trabalho de uma equipe integrada. Estamos satisfeitos com os resultados recentes, é um trabalho de médio e longo prazo que já vem colhendo frutos”, comemora Paulinho Araújo.
Além de Rony, o meia Rodrigo se transferiu para o Corinthians (SP). Warian Santos, o volante Ameixa, também vem ganhando espaços, assim como o zagueiro Igor João. São jogadores que fizeram parte da campanha remista na Copa do Brasil Sub-20, desbancando times do porte de Vitória (BA) e Flamengo (BA).[/colored_box]
O Liberal, 22/06/2014