Quem vê o futebol paraense cambaleando, não sabe que por trás dessa crise já existiu uma verdadeira fábrica de craques. De todos os lados surgiam grandes atletas. Os celeiros eram os mais diversos. Graças a esse destaque, por muitos anos o Pará abasteceu o mercado nacional com jogadores de alto nível, que escreveram seus nomes na história dos mais diversos clubes de ponta do Brasil.
A situação mudou. Com a profissionalização atingindo em massa os clubes do eixo Sul-Sudeste e até mesmo de regiões mais próximas do Pará, os nossos representantes acabaram indo na contramão, muitas vezes levados por administrações amadoras, que contribuíam mais para arrasar a imagem das instituições do que propriamente levantá-las. Assim, minas de ouro, como a Tuna Luso, Clube do Remo, Paysandu, São Raimundo, e outros times menores, foram deixando de lado a função de clubes formadores.
Conscientes de que o cenário precisava voltar ao que era, nos últimos anos, alguns desses clubes passaram a olhar com maior carinho para a base. Nada muito próximo do que já foi um dia, mas ao menos alimenta o sonho de milhares de garotos, que todos os dias vibram com os ídolos na televisão, ao mesmo tempo em que desejam estar ali. Exemplos não faltam: Cicinho, Giovanni, Paulo Henrique Ganso, Manoel Maria, Charles Guerreiro, Bira… Não há garoto que não tenha esperança de chegar ao patamar desses jogadores. Antes disso, entretanto, é preciso brilhar aqui, nos surrados gramados estaduais, que já serviram de palco para muitos espetáculos protagonizados por esses garotos.
A seguir, nosso leitor terá um pouco do que o futebol paraense anda produzindo de melhor, suas expectativas e planejamentos para um futuro próximo, que depende diretamente do investimento nessa garotada.
[colored_box color=”yellow”]Base remista tem dado alegrias nos últimos anos
O endereço distante leva ao local onde os garotos azulinos sonham em se tornar jogadores de futebol. É lá, no Centro de Formação de Atletas “Alcino Neves”, que o Clube do Remo retoma um sonho antigo de resgatar a tradição de formador de craques, Atualmente, mais de 100 atletas trabalham diariamente em busca desse objetivo, divididos nas categorias Sub-13, Sub-15, Sub-17 e Sub-20.
O supervisor dessa garotada é um velho conhecido. Com 20 anos no Leão Azul, Tindô ajudou a revelar nomes como Levy, Igor João, Alex Ruan, Ameixa, Rogerinho, Cicinho, entre outros. Hoje em dia, ele age mais nos bastidores, correndo atrás de apoio, enquanto na linha de frente estão os técnicos Lindomar, Rodrigo e João Hage. Todos eles com um olhar clínico e muita habilidade na hora de orientar um futuro craque.
A estrutura adotada por eles e a didática de trabalho, segundo explica o coordenador, é pautada na seriedade, mas, acima de tudo, no prazo adequado. “Nosso planejamento é a longo prazo. Daqui uns anos você verá novamente outra geração de craques arrebentando nos gramados e assim vamos crescendo”, avalia ele, que conta com a moral de um grande ídolo.
“Conversei com o Agnaldo e ele está dando um apoio enorme para a base. Ele conversa com os jogadores, dá dicas de como as coisas acontecem. Por ele ser um ex-jogador experiente e ídolo, é importante passar essa mensagem aos atletas”, diz. O auxiliar do técnico Cacaio tem feito visitas regulares ao CT azulino, disposto a descobrir talentos e levá-los ao profissional.
“No Brasil, todos os clubes estão investindo na base. Você pode olhar por aí, todos fazem isso, investem na base. Esse é o futuro do futebol. Nós precisamos bater nisso também, dar uma boa condição para o garoto, alimentá-lo bem, oferecer a estrutura e correr atrás de apoio. O trabalho é esse”, encerra.[/colored_box]
Com apoio, novos valores vão surgir
Nesse tempo de base azulina, além dos intermináveis talentos que lapidou e lançou no futebol profissional, Tindô acumula histórias e boas lembranças. Nunca esquece, por exemplo, do time que chegou na quarta fase da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Hoje em dia, ele luta para retornar aos bons tempos, mas precisa de ajuda.
“A gente precisa de apoio, principalmente da diretoria. Até escrevi uma sugestão, fiz um apelo para que esse problema no clube seja resolvido e que o clube possa voltar ao caminho certo”, diz ele. “Nós temos pessoas que trabalham muito pela base, especialmente o Paulinho Araújo e o Piedade”, revela.
Aos poucos, as coisas vão se encaixando. Se tudo der certo, o Remo pode participar da Copa São Paulo como convidado e, se isso acontecer, ele estará preparado. “Estou treinando o Sub-17 para isso”, contou.
São inúmeros talentos que esperam uma oportunidade para brilhar no futebol azulino, como o jovem atacante Rogério, do time Sub-17. “Nós fazemos o melhor para, quem sabe um dia, subir e dar tanta alegria quanto os outros que já passaram por aqui”, diz o garoto. Além dele, o Remo tem outras tantas promessas, como o zagueiro Paulinho, o volante Maurício e o meia Wendel, somente no Sub-17.
Nos sub-15, Tindô aposta alto no lateral-esquerdo Felipe e no zagueiro Anderson. “São atletas que o próprio Agnaldo elogiou e futuramente podem estar no profissional”, lembra.
Diário do Pará, 24/05/2015