No dia em que completa 76 anos de idade, o empresário Pedro Minowa, que entrou para a história do Clube do Remo como primeiro presidente eleito através do voto do associado, resolveu adotar uma atitude até então inesperada, que promete reverberar nos cantos mais intocáveis da pirâmide azulina.
Licenciado do cargo desde o final de junho, quando foi sucedido pelo presidente do Condel, Manoel Ribeiro, Minowa, em fato inédito, decidiu renunciar ao cargo que ganhou nas urnas. O anúncio será feito na manhã deste sábado (07/11), após o documento explicando as razões ser protocolado na secretaria da sede social. Com isso, de acordo com o Estatuto do clube, novas eleições devem ser convocadas o mais breve possível.
A decisão veio após uma série de ponderações, forçadas também por pedidos da família, de que Minowa não teria mais condições de retornar ao clube, principalmente por conta da imagem desgastada e, de certa forma, prejudicada por alguns setores internos. Segundo ele próprio, várias pessoas que o cercavam, contribuíram para uma sucessão de erros que foram desde contratações de atletas até acordos com empresas terceirizadas.
“Desde o início do ano, quando apresentamos o elenco, houve interferências nas contratações. A primeira foi feita pelo ‘Magnata’, que inviabilizou a contratação do goleiro Paulo Rafael, na época um bom goleiro. Outro jogador que queríamos trazer era o Ezequias, do Independente, que o Carlos Gama também interferiu”, aponta Minowa.
Desde então, polêmicas como a multa rescisória com a empresa Ingresso Fácil, a venda do atacante Rony e a falta de prestação de contas, foram motivos suficientes para uma avalanche de críticas, que culminaram com sua acusação de gestão temerária.
“Essa empresa voltou a fazer os ingressos para o Remo e mais nada se falou da tal multa de R$ 500 mil. No caso do Rony, pouco participei, mas em momento algum ganhei dinheiro ou recebi dinheiro na minha conta, como disseram. Mesmo assim, fui acusado de tudo. Agora, imagine se na minha gestão fossem roubados R$ 423 mil“, frisou Minowa.
Em sua carta renúncia, Minowa questiona o comportamento do Condel remista, que na gestão dele se portou como ferrenho fiscalizador, mas “durante a interinidade do cargo, as cobranças de transparências deixaram de ser evidentes junto o Codir”, coloca, chegando ao absurdo de “permanecer em silêncio absoluto”, diante de um assalto milionário, ainda sem qualquer explicação.
Em outras palavras, Pedro Minowa deixa o cargo para “interromper o mandato de quem não foi eleito democraticamente”, caso do interino Manoel Ribeiro. Tal situação foi desenhada ao longo dos meses seguintes à licença, através de um acordo verbal entre Minowa e alguns membros do atual grupo diretor, no qual, se a licença fosse mantida e prolongada a cada vencimento, a Assembleia Geral, que na prática serviria para destituí-lo definitivamente no cargo, continuaria engavetada até o término do mandato, em dezembro de 2016.
Desta forma, o mandato interino, que provavelmente seria prolongado até o final do ano que vem, encerra automaticamente e a Assembleia Geral será convocada para organizar novas eleições.
Assim, segundo ele, se encerra uma história de capítulos variados, que no fim das contas resultou em um bicampeonato estadual e o acesso à Série C. Daqui por diante, o presidente, o abnegado que colocou mais de R$ 1 milhão no clube e o diretor de vários departamentos, deixa oficialmente de existir.
“A partir de agora, só ajudo comprando meus ingressos e nada mais. Apesar disso, peço muito para que os torcedores acreditem no Remo, se associem e torçam, pois o Remo não é meu e de nenhum desses que aí estão. O Remo é um patrimônio dos mais valiosos que o tempo vai se encarregar de colocar no devido lugar”, encerrou.
Diário do Pará, 07/11/2015