Nesta segunda-feira (20/06), o cearense Fred Gomes, executivo de futebol do Remo, ressaltou a importância de ser feito um movimento de união interna em prol da profissionalização do clube.
Com fala incisiva e bastante crítica em diversos assuntos, o dirigente azulino afirmou que o ponto central para o crescimento do Leão Azul é o fim das disputas internas. Fred reclamou da falta de apoio na Federação Paraense de Futebol (FPF), saiu em defesa de Marcelo Veiga, alegou dificuldades financeiras para montar o elenco e ainda admitiu ter ultrapassado o teto de gastos estipulado para o futebol profissional.
“Estou há 1 ano e meio dentro do clube e no 4º presidente. Isso reflete bastante dentro de campo. Hoje o problema do Remo é o Remo mesmo. Sou um profissional do futebol, respeito todos os ‘cardeais’, grandes beneméritos, sócios proprietários, mas é preciso se unir, porque só assim a gente vai sair dessa situação. O torcedor torna essa cobrança com a expectativa do acesso, pois o clube passou 10 anos no ostracismo e, dos últimos 10 anos, foram 7 sem Série. É muito pouco para a dimensão que é o Remo”, comentou.
“Remo e Paysandu não podem estar remando nessa situação, têm que estar caminhando junto, a rivalidade tem que existir nos primeiros 4 meses do ano, depois é se unir para fazer o futebol do Pará forte, porque a dificuldade é grande”, afirmou.
O trabalho de montagem do elenco azulino foi feito por Fred Gomes em conjunto com a direção de futebol, formada por Paulo Mota e Dirson Neto, além do ex-técnico Leston Júnior e do atual Marcelo Veiga. Rendas bloqueadas e a falta de um patrocínio máster diminuíram as receitas do clube, que tem como únicas fontes de renda o próprio torcedor, por meio da venda de ingressos avulsos e do programa de sócio-torcedor Nação Azul. Gomes falou sobre a dependência da presença maciça de público nos jogos como mandante.
“É difícil trazer jogador para o Norte. O Paysandu foi campeão paraense e da Copa Verde e contratou a mesma quantidade de jogadores que o Remo contratou para a competição nacional. Remo e Paysandu, enquanto não estiverem na Série A, vão fazer 2 times por ano, porque no primero semestre nenhum aleta de alto nível quer vir jogar aqui”, contou.
“Iniciei a temporada praticamente com o caixa negativo. Todas as cotas de patrocínio bloqueadas, sem patrocinador máster e o que tem de receita é o sócio-torcedor e a bilheteria. Então, tinha que montar uma equipe baseado naquilo que o torcedor poderia dar de retorno junto com o sócio-torcedor. Fizemos um time dentro de uma realidade que fosse pagável. Do outro lado, o Paysandu começou a temporada com o mínimo de R$ 5 milhões de cota ofertada aos clubes da Série B e iniciei a temporada praticamente sem cota. O que me passaram que é temos de 6 mil a 7 mil adimplentes no programa sócio-torcedor, que dá uma média de R$ 200 mil a R$ 300 mil por mês. O que me orientam é mais ou menos isso: ‘Com futebol pode gastar até R$ 300 mil por mês’ e, mais do que isso, não vai se gastar porque não vai se cumprir. A receita da bilheteria, hoje, é o carro chefe”, disse Fred.
Passagem relâmpago de Zeca Pirão como diretor
Acho que o presidente foi feliz quando demonstrou que está aberto a se unir com qualquer chapa de oposição na atual gestão, mas infelizmente o Zeca (Pirão) tem uma postura de trabalho diferente da dele, acabou não evoluindo (a parceria). Ficamos tristes. Perdemos uma pessoa espetacular, independente de ser situação ou oposição, o Pirão é remista e gosta do Remo, mas o que posso deixar de mensagem para o torcedor do Remo, principalmente os cardeais e os sócios, que se unam para fazer o Remo forte, porque só assim iremos sair dessa situação. O lugar do Remo não é Série C, é na Série B, mas para nós chegarmos lá, temos que ter a união de todos.
Críticas ao seu trabalho
Qualquer crítica que seja construtiva, estou aberto. O cargo que exerço é um cargo que todo mundo sonha estar. Vejo muitas críticas para o lado pessoal, principalmente pejorativas, pessoas que querem conturbar o ambiente. As pessoas que me conhecem desde a minha chegada, sabem como conduzo bem o futebol. Minha preocupação é de fazer uma blindagem, tornar o futebol algo profissional e o Remo ainda está engatinhando nessa profissionalização. Isso incomoda muita gente, principalmente os interesses pessoais de algumas pessoas dentro do clube.
Falta de apoio na FPF
Falta força política. Como representante do Remo, as 2 vezes que procurei a Federação no ano passado, na Série D, para intervir em algumas situações, principalmente na logística maluca de viagens, não tive apoio. Hoje, ele (Coronel Nunes) é vice-presidente da CBF.
Folha do futebol ultrapassou o teto em R$ 50 mil
Hoje a folha salarial é de R$ 470 mil só de jogadores, mas vou finalizar o mês de julho em R$ 550 mil, somando atletas e comissão técnica, incluindo os últimos contratados. O teto já está estourado em R$ 50 mil.
Defesa ao trabalho de Marcelo Veiga
Dia 30/06, o Veiga faz 90 dias de trabalho. Você tem que avaliar o treinador em duas etapas. Os primeiros 40 dias ele só pôde tirar o máximo daquele grupo que estava disputando a fase final da Copa Verde e do Estadual. Terminadas essas competições, se inciou outro planejamento, que é o tão sonhado objetivo da torcida do Remo: voltar à Série B. Reformulamos o grupo e estamos ainda nessa fase de adaptação. Acho que a exigência é da 5ª à 6ª rodada, que é quando o time vai começar a desenvolver aquilo que nós achamos que é ideal. O que estamos buscando agora é o equilíbrio emocional e as vitórias para dar tranquilidade.
Fortaleza (CE) e Ceará (CE) administrativamente à frente de Remo e Paysandu
Eu via em Remo, Paysandu e Tuna, 3 clubes paraenses que iam jogar no Ceará e ganhavam com facilidade, tinham uma visibilidade nacional enorme. Hoje, Fortaleza (CE) e Ceará (CE) estão na frente de Remo e Paysandu no tocante administrativo. Não estou falando em tamanho ou grandeza. Nesse momento, relacionado ao futebol, vejo que o Paysandu hoje, na gestão do (ex-presidente) Vandick e depois com o Alberto Maia, está dando um salto de qualidade na sua gestão e isso é importante. Isso nos dá mais coragem para acompanhar esse nível, para podermos igualar o nosso maior adversário. O futebol paraense ainda tem muito a percorrer nesse setor de profissionalização da gestão.
Globo Esporte.com, 20/06/2016