O jornalista espanhol Martí Perarnau costuma separar treinadores de futebol em “administradores” e “arquitetos”. Os “administradores” são maioria no futebol brasileiro e mundial, sabendo gerir elencos, entendendo o clube internamente, aceitando as condições impostas e baseando seu trabalho a partir daí. Essa classe ganha adeptos por ir de encontro à cultura futebolística fincada no Brasil, onde o torcedor comum se sente representado na figura do treinador.
A categoria dos “arquitetos” engloba os treinadores que buscam estudar e acrescentar algo de novo ao futebol, construindo seu estilo de jogo e impondo-o em todos os jogos, independentemente das circunstâncias. Essa classe requer tempo de trabalho, paciência e confiança, pois introduzir uma novidade requer adaptação em todos os âmbitos e, naturalmente, ocorrem oscilações maiores. Arquitetar um modo de jogar futebol não está (ainda) na alça de mira da maioria dos treinadores brasileiros, fato prejudicado pelo imediatismo reinante no país.
Josué Teixeira se enquadra na categoria “administrador”. Chegou como um desconhecido do grande público e vem caindo nas graças do torcedor remista a cada declaração ou atitude perante a imprensa. O treinador abraçou o projeto, buscou conhecer a política interna do Remo – que sempre influenciou em campo – e então procura blindar o elenco sempre que possível, ganhando a confiança dos jogadores e o apoio da torcida, pois é justamente no trato humano que reside sua maior qualidade.
Seu forte não é montar planos táticos que controlem ou submetam o adversário às estratégias de jogo do Remo. Josué busca o “feijão com arroz”, introduzindo conceitos básicos aos jogadores para que possam ganhar confiança e galgar um caminho mais tranquilo na montagem de um grande time.
O experiente treinador conhece o peso da camisa azulina e o quão importante é ter a torcida ao seu lado, principalmente na fase inicial do trabalho, onde a linha entre confiança mútua precisa ser conquistada diariamente.
A sinergia tem sido a melhor possível, pois Josué representa exatamente o que o Remo necessita no momento: uma pessoa agregadora no cargo e que coloca o elenco acima de qualquer vaidade ou problemas.
Os resultados obtidos até então fortalecem ainda mais sua posição como figura pública mais importante do clube. A partir de suas decisões técnicas e hierárquicas, o caminho vai sendo percorrido com dificuldades naturais do futebol, enfrentadas sob a ótica humana antes da técnica.
Erros e acertos nos planos tático e estratégico ocorrerão, como com todos os treinadores. O que anima a torcida e dá esperança para um futuro é o fato de o elenco fechado com seu treinador ser capaz de produzir bons resultados, principalmente se analisadas as características técnicas do Campeonato Paraense, da Copa Verde e da Série C.
Os princípios humanos são um fator preponderante no futebol na hora de exigir a entrega, o algo a mais tão importante no futebol.
Não se sabe até onde o Remo chegará na temporada. A única certeza é que Josué tem absorvido o espírito do torcedor, comprado sua briga e entregado seus desejos. Coloca-se como esteio do grupo e acredita nos seus comandados. Isso já ganhou a torcida e o fortaleceu diante de todos. Era a peça necessária para a engrenagem interna começar a voltar a funcionar.
O “administrador” que o Remo carecia está aí, cabe ao próprio clube a missão de ajudá-lo no percurso.
Texto enviado por: Caíque Silva » Twitter
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