Em mais um mandato à frente do Clube do Remo, o presidente Manoel Ribeiro vem enfrentando grandes problemas para gerir o Leão, principalmente por causa das dívidas que o clube possui. Além disso, nessa reta final de temporada, com a disputa do Campeonato Brasileiro da Série C, o mandatário azulino tenta trazer tranquilidade para o grupo de jogadores e para a torcida, já que houve muitos erros de planejamento no futebol.
Ribeiro fez uma avaliação desta gestão e comentou sobre a atual situação do clube em relação ao setor financeiro, político e, claro, sobre o “carro-chefe” do clube, o futebol.
Como o senhor analisa o atual momento do Remo, na sua gestão?
O Clube do Remo vinha há 8 anos sem calendário, sem perspectiva de jogar até o fim do ano. Então, tudo o que foi acumulando, está estourando agora na nossa gestão. Acumularam dívidas. Inclusive, quando chegamos aqui, tinha 6 meses de salários atrasados, mas não fizemos alarme disso. Temos procurado conseguir que os débitos que temos, principalmente com pessoal, que a gente possa quitá-los. Dinheiro não é fácil de conseguir, principalmente na situação que estamos, quando o futebol não vai bem.
Como está a questão das dívidas trabalhistas?
Da renda dos jogos, 50% vai para a Justiça do Trabalho. Estamos conseguindo administrar a dívida da Justiça do Trabalho, graças ao apoio que temos recebido do doutor Itamar (Raimundo Itamar Lemos Fernandes Júnior), que é o juiz da 16ª Vara. Ele tem sido de uma benevolência conosco impressionante. A prova é que a nossa dívida estava na casa do R$ 12 milhões e hoje está em menos de R$ 5 milhões. Fomos fazendo acordos, a gente “perdeu” todos os patrocínios. Isso tem sido bom, porque temos diminuído a dívida. Acho que eram uns 90 processos, hoje estão reduzidos a 15.
O Remo vem pagando as dívidas do passado, mas e as atuais?
Evidentemente que se a gente paga por um lado, vai faltar do outro. Esse outro lado é que a gente está querendo resolver e temos feito aqui. Temos feito o que podemos para que nossos jogadores e funcionários fiquem o mínimo possível com o atraso de pagamento. Às vezes atrasa porque não entra receita nenhuma. Com a receita que entra, ou a gente paga Justiça do Trabalho e diminui os nossos débitos, ou a gente paga pessoal. Sempre preferi pagar pessoal, mas recebemos um apoio tão grande no TRT, que a gente não tem como negar.
O que o Remo tem feito para evitar futuras dívidas trabalhistas?
Temos sido orientados a evitar novas ações na Justiça do Trabalho. Só que tem advogados que ficam na porta da Justiça do Trabalho, que vão atrás dos jogadores para tentar levar não só jogadores, mas também os funcionários a entrar com uma ação contra o Remo. Ainda tem as coisas que inventam. Agora estou ouvindo dizer que o Josué Teixeira teria entrado com ação de R$ 300 mil. Não existe isso, o Josué não era nem funcionário do Remo, ele era “serviços prestados”. Ele pertence a uma empresa. Esta, sim, que tem o contrato com Remo. A gente sabe da obrigação que a gente tem, que tem de pagar. Sabemos disso e ninguém está se prevalecendo disso para não pagar, mas os advogados não querem nem saber. Temos que evitar, mas a gente só evita isso cumprindo com os acordos. Quando honramos o acordo, não temos mais dinheiro.
Em relação ao futebol, houve erro de planejamento?
O ex-treinador trouxe vários jogadores, que já foram dispensados. Todos os salários foram acima e poucos corresponderam. Quando tomamos conhecimento, estes jogadores já estavam contratados. Trazidos pelo diretor de futebol e pelo técnico. Os jogadores já estavam até aqui. Tanto que assinamos contratos da CBF sem isso de “direito de imagem”. Claro que tem a palavra pelo diretor, pelo técnico, que o salário seria aquele. Não poderíamos fugir, para não desmoralizar quem fez a contratação.
No início do ano, foi dito que se o valor da folha azulina passasse do estipulado, a direção pagaria. Por que não ocorreu isso?
Fizemos o planejamento, no início do ano, de a folha não passar de R$ 300 mil com tudo, incluindo comissão técnica. Fizemos! Trouxemos jogadores locais, da base, o que seria mais barato para montar um time. Evidentemente, as coisas não aconteceram como a gente queria. A própria torcida não entendeu que a gente tinha que botar um time regional. A torcida não sabe, mas outras vezes vieram jogadores de R$ 40 mil, R$ 50 mil. A gente fica em uma situação muito complicada. Fizemos o planejamento, mas muita coisa a torcida não entendeu, a torcida também não aceitava, ou aceitou, mas desconfiava que não ia dar certo. A torcida só estava acostumada com os medalhões. Eles vêm, não dão certo e depois jogam o Remo na Justiça do Trabalho. Muitos vêm para cá já com esse intuito. Aquele Luiz Carlos, o grande “Imperador”, não jogou por aqui direito, ele foi embora daqui sem ter sido o “Imperador”. No entanto, levou a gente para a Justiça do Trabalho, porque ele já veio com esse propósito de fazer contrato a longo prazo, por um preço alto.
Como o Remo tem buscado angariar recursos para pagar as contas?
Dinheiro não dá em árvore. É preciso paciência e é a própria torcida quem tem resolvido os problemas. Quase 80% dos problemas são resolvidos pela torcida. Ela que vai, ela que paga. A gente faz um jogo desse e, mesmo não estando bem na série C, a torcida vai, quer ajudar. Mesmo com essa ajuda, ainda é pouco. Temos de nos manter em dia com o Profut. Mesmo parcelado em muitas vezes, ainda temos de pagar R$ 42 mil todo mês. No último jogo, metade do que sobrou para o Remo foi para a Justiça do Trabalho e o que sobrou foi cerca de R$ 47 mil. Só de “bicho”, foi R$ 25 mil. Tem concentração, quem paga é a torcida. No final, o dinheiro sai daí. A gente sente que a torcida do Remo quer ajudar, mas precisa de um pouco mais de força. Estamos tentando fazer o possível. Por isso que às vezes atrasa os salários. Mesmo assim, vamos aos bancos, arranjamos dinheiro para ficar em dia. Estamos planejando agora fazer uma promoção que, se der certo, vamos deixar o salário dos jogadores e dos funcionários em dia.
Como está o Baenão?
Hoje estamos recebendo o apoio enorme da torcida do Remo, fornecendo materiais para que se possa arrumar o estádio. Temos apoio de empresas particulares, que mandaram fazer uma limpeza no Baenão. A chuva atrapalhou, mas este período passou. Agora é bobagem dizer que vai inaugurar em agosto. Temos uma arquiteta trabalhando com a gente e no momento em que o projeto estiver pronto, vamos tentar conseguir recursos no Ministério dos Esportes. É um projeto que vai custar para nós cerca de R$ 3 milhões para executar e o Remo não tem isso. Vamos ter de apelar para o Governo Federal ou para um banco. O projeto está bonito. Espero até dia 15/08 apresentar o projeto.
O senhor tinha uma proposta de unir o Remo, como está essa união?
A gente precisa da ajuda de todo mundo. Quando assumi o Remo, queria que todos pudessem se unir, para que a gente pudesse fazer tudo que o Remo precisasse. Entretanto, a eleição para presidente, para me substituir, que só é no final de 2018, já começou. Já tem candidato aí sobrando, candidato à vontade para subir e já começar uma campanha. Essa campanha vai distorcendo aquilo que está acontecendo e não ajuda em nada. Temos de nos conscientizar que se não conseguimos nos unir, não vamos ter o Remo como a gente quer.
Sobre as críticas nas redes sociais, na internet, o que o senhor tem a dizer a estes torcedores?
Quem fala nas redes sociais, não tem a menor noção do que está fazendo. Faz aquilo para fazer uma fofoca, para poder criar um ambiente ruim. Então, se essas redes sociais tiverem como ajudar e não só fofocar, é evidentemente que não vamos desprezá-los. Queremos a ajuda de todos, inclusive deles, que às vezes só fazem falar e não colocam 10 centavos para poder ajudar. A ajuda que a gente quer é financeira, não adianta. Se não for dinheiro, não tem como pagar as contas. Então, se eles estão tão ociosos das suas obrigações nas redes sociais, eles que se apresentem para ajudar, como essa turma de torcedores que veio aqui se oferecer para me ajudar a reabrir o Baenão. Eles estão lá, botando cimento, areia, botando o que é possível fazer lá. Eles estão ajudando. É isso que a gente precisa e vamos coordenando para que as coisas aconteçam dentro do possível.
Diário do Pará, 30/07/2017