Desde que garantiu a permanência do Clube do Remo na Série C do Campeonato Brasileiro para o ano que vem, após uma campanha difícil e que beirava o rebaixamento, João Nasser Neto, o Netão, caiu nas graças da nação azulina.
Tanto torcedores quanto dirigentes têm concordado com o nome do profissional para continuar a frente da comissão técnica para 2019 e, ao que se desenha pelos bastidores, Netão deverá ganhar sua chance de ouro em poder iniciar o planejamento no futebol profissional.
Após aproveitamento positivo nos 7 últimos jogos pela Série C, João Neto teve sua vida passada a limpo e uma das curiosidades é que ele possui identidade com o Leão desde os 8 anos de idade. Grato pelo reconhecimento, o treinador sabe que será cobrado na próxima temporada.
Mesmo com 39 anos completados recentemente, a experiência no esporte e a ligação com o clube lhe passam controle e segurança para administrar e controlar os prós e contras daquilo que o mesmo afirma ser o seu momento máximo na carreira.
Netão reafirmou o seu amor pelo Remo, mas foi bem crítico em alguns assuntos ligados ao futebol profissional, como a estabilidade na função de técnico. Acompanhe a conversa a seguir:
No dia 10/11, o Remo passará por eleições. Alguns nomes já confirmaram sua intenção em concorrer ao cargo de presidente e outros ainda arquitetam a participação no pleito. Como você encara ser a primeira opção dentre todos os pré-candidatos?
Fico muito feliz por isso, porque trabalhei para isso. Quando você visualiza que seu trabalho está sendo valorizado, isso te motiva a querer buscar mais, mas tenho os pés no chão. A responsabilidade aumenta. Até as eleições, muita coisa pode acontecer. Não escondo o desejo de continuar, poder começar a temporada com aquilo que acho correto e que vá satisfazer o Remo. Para isso, o futebol e a diretoria precisam andar em conjunto, porque senão as coisas ficam como nos últimos anos, sem uma perspectiva positiva. Estou preparado.
Desde que voltou à Série C, em 2016, o Remo contou com 10 treinadores no time profissional. No futebol moderno, a equipe segue na contramão, sendo que a continuidade é um dos pontos que tem destacado times como o Operário (PR), que manteve o seu treinador desde 2016 e hoje é bicampeão nacional. Com você no comando, o Remo pode almejar essa modernidade? Te deram algum respaldo para isso?
A gente conversa muito sobre isso, por isso, é preciso construir um modelo de sequência, porque sem continuidade, às vezes os trabalhos vão na base da sorte. Tivemos 4 (treinadores) esse ano, entende? O futebol é complexo e, sem resultado, as coisas ficam difíceis. Formular um padrão, um estilo de gerir futebol para uma crescente em médio prazo é importante, porque as coisas passarão a acontecer naturalmente. Vemos times do Sul ou Sudeste com técnicos jovens e que estão tendo a confiança. Nem sempre as conquistas irão aparecer, mas o rendimento sim, será muito maior pela confiança.
Apesar de ter estreado nesse ano à frente do profissional, sua jornada no futebol já se arrasta por anos, especialmente pela base. Pela pressão que é assumir o Remo e no momento que lhe foi dada a oportunidade, qual a lição que tira para 2019?
Tive 7 jogos pela Série C e em um período muito complicado. Passamos por um ambiente emocional muito carregado. Claro que vai ser uma situação diferente, iniciar tudo do zero, com lenha para queimar, mas esse controle emocional, não só da minha parte, mas dos atletas que participaram. Se for para apontar, o maior aprendizado, foi saber lidar com as cobranças, com o medo, e usar a nosso favor. O Remo possui uma torcida gigante e víamos que, mesmo com a insegurança, estavam ao nosso lado. Como disse, o futebol vive de resultados, mas o tempo também é determinante. Com a cabeça no lugar, vamos montar um grupo forte para ir longe.
Por falar em grupo, embora ainda que seja cedo, até pela situação interna do clube, como anda o processo de procura por novos jogadores? Se você pudesse escolher alguns atletas, hoje, quais seriam?
Tenho conversado com o Ari (Barros, gerente de futebol). Estabelecemos 4 pontos: priorizar uma base de quem estava, pessoal do Sub-20, a Segundinha, que sempre é muito importante, e alguns que se destacaram de fora na nossa competição. Temos nomes no nosso banco de dados e estamos em conversa, mas preferimos não adiantar, até para não criar um ‘disse me disse’. Vamos em busca daquilo que vá ajudar o time do começo ao fim.
Alguns nomes já estão na mesa para a renovação e chamaram a atenção, como Bruno Limão, Keoma e Romário, que pouco tiveram oportunidades. Por que mantê-los?
Na verdade, eles são jogadores que se destacaram positivamente no Estadual. O Remo estava em um momento muito ruim e escalá-los poderia queimá-los de forma desnecessária. Bruno atuou contra o Globo (RN), estreando fora. Isso mexe com o jogador. Procuro sempre usar a empatia, entender o jogador, para ganhar e repassar confiança. Trabalho muito isso e vamos tentar sempre priorizar isso. Não gosto de trabalhar com titulares e reservas, mas com o coletivo. A gente sempre foca nisso para dar resultado.
Diário do Pará, 30/09/2018