São poucos, raros, os torcedores azulinos que sabem o motivo de o estádio do Clube do Remo ser denominado oficialmente de “Evandro Almeida”.
Quem foi Evandro Almeida? O que ele fez para ser merecedor de tal honraria, de ter o seu nome imortalizado na denominação da praça esportiva azulina?
Dos milhares de atletas que já vestiram a centenária e gloriosa camisa azul-marinho do Clube do Remo, em todos os tempos, há de se convir de que, entre tantos, poucos tiveram tanta lealdade e destaque como o lateral-direito e médio (volante) Evandro Almeida. Foi uma vida inteira de dedicação à causa azulina, nos tempos em que o dinheiro não era parte integrante das disputas futebolísticas.
Havia, isso sim, o amor ao clube do coração, pelo qual os atletas faziam o possível e às vezes, até o impossível para alcançar a vitória. Esse fato tem que se levar em conta, principalmente no caso específico de Evandro Almeida, que nos longos anos em que praticou o futebol, só vestiu duas camisas: a do Clube do Remo e a da Seleção do Pará.
Os azulinos o reverenciam até hoje como um símbolo da dedicação à bandeira do Remo e como forma de prestar-lhe homenagem aprovaram, após a sua morte, na década de 60, que o estádio da travessa Antonio Baena, que até então não possuía uma denominação oficial, passasse a tê-la, sacramentando-se que o estádio do Clube do Remo passaria a ser chamado de “Evandro Almeida”.
Evandro Almeida começou a despontar no Remo quando o futebol paraense engatinhava. Os registros dos jornais apontam que Evandro Almeida fez sua estreia pelo Remo em jogo pelo Campeonato Paraense de 1924, contra o União Esportiva, em 14/09 daquele ano. O Leão venceu o forte time do União, por 2 a 1 e Evandro Almeida jogou integrando a linha de médios (volantes), agradando em cheio à direção técnica.
Nesta partida, disputada em seu estádio, o Remo jogou no esquema 2-3-5, com Massana; Romeu, Maluco; Marajó, Evandro Almeida, Pequenino; Preto, Formiga, Convencido, Maxico, Serrão.
A estreia de Evandro Almeida foi das mais auspiciosas, tanto que ele asseguraria logo uma vaga no time azulino e poucos dias depois disputaria o seu primeiro clássico Re-Pa, em 05/10, no estádio da Curuzu.
Essa partida foi encerrada sem a abertura do placar e Evandro jogou na ala esquerda do trio de médios, da qual passaria a se constituir como titular absoluto. O Leão, que nessa temporada alcançaria o título estadual, mandou a campo Francelísio; Romeu, Otávio; Brito, Vivi, Evandro Almeida; Formiga, Pequenino, Formigão, Rato e Preto.
O exuberante futebol que vinha sendo mostrado por Evandro Almeida fez o craque galgar mais um degrau na sua carreira, nessa mesma temporada, sendo convocado para servir a Seleção do Pará, que disputaria o Campeonato Brasileiro de Seleções. O escrete do Pará teve como adversário o forte time de Pernambuco, definindo-se em uma só partida quem seria o Campeão do Norte, que englobava as seleções do Norte e Nordeste, nessa época.
O jogo foi disputado no Recife (PE), em 16/11/1924, com a presença de 6 mil torcedores e arbitragem do baiano Anísio Silva. A partida foi bastante disputada, tendo como local o estádio da Ilha do Retiro (Sport-PE). Ao término dos 90 minutos, o placar acusou o empate por 1 a 1. Aluízio marcou para os pernambucanos, enquanto que Marituba empatou para os paraenses. O resultado forçou uma prorrogação de 30 minutos, que terminou com a vitória do time nordestino por 1 a 0, gol de Pitota.
Os paraenses protestaram após o gol, alegando que ele teria sido marcado em completo impedimento, mas o árbitro baiano não deu ouvidos às reclamações, com o que os paraenses resolveram abandonar o gramado, quando faltavam 7 minutos para o fim da prorrogação.
A seleção paraense, cujo treinador era Barros, jogou contra os pernambucanos com o futebol de Francelísio; Evandro Almeida, Xavier; Pequenino, Sandoval Matos, Brito; Cobrador, Vadico, Marituba, Macambira, Arthur Moraes.
No Remo, Evandro Almeida mostrou toda a sua dedicação e maestria por longas 15 temporadas (até 1938) e, em um de seus últimos jogos envergando a camisa do Leão, em disputa da Taça da Paz (Taça Importadora de Ferragens), em 03/04/1938, no estádio da Travessa Antônio Baena, o Remo aplicou uma sonora goleada por 5 a 1 sobre o Paysandu, jogo que marcou a entrada da Rádio Clube do Pará nas transmissões futebolísticas.
Evandro Almeida deixava escorrer as últimas gotas de suor em campo, na defesa da bandeira azulina. O Leão jogou e goleou o seu grande rival com Orlando; Barradas, Evandro Almeida; Trindade, Pelado, 77; Moacir, Bendelaque, Viveiros, Capi, Vevé. O Paysandu jogou com José; Newton, Pena; Pery, Batista, Pedro; Erberto, Doca, Quarenta, Moacir, Heitor. Os gols do Remo foram assinalados por Vevé e Viveiros, cada um marcando 2, além de Bendelaque; Erberto descontou.
O jornal “O Estado do Pará”, na sua edição de 05/04/1938, estampou uma crônica, em alusão à participação de Evandro Almeida na partida em que o Clube do Remo goleou o rival bicolor. Ei-la:
Fazemos uma referência especial a Evandro Almeida. Afastado definitivamente das lutas, ele que sempre foi uma expressão de heroísmo e de amor ao seu clube, reviveu o seu fulgor antigo, surgindo novamente na arena. Não esperava que o convocassem. Sentiu que a sua flâmula estava a reclamar-lhe o seu concurso para defendê-la. E como quem foi rei é sempre majestade, Evandro esteve como sempre. Esteve um azulino.
Evandro Almeida estava se despedindo dos gramados paraenses, na condição de jogador, coberto de glórias, tendo se sagrado campeão paraense pelo Clube do Remo nas temporadas de 1924, 1925, 1926, 1930, 1933 e 1936. Também conquistou títulos de campeão do Norte, pela Seleção do Pará. Iria dar vez a outros, que esperavam por oportunidade no elenco azulino, como Coelho, outro grande jogador, que passaria a ocupar o posto que fora antes de Evandro Almeida.
Evandro Almeida continuaria a prestar sua colaboração ao Clube do Remo, assumindo cargos de direção e, no início dos anos 50, como técnico de futebol. Foi agraciado com o título de Benemérito e, posteriormente, de Grande Benemérito.
Após sua morte, o Conselho Deliberativo do Clube do Remo aprovou a indicação do seu nome para o estádio azulino. Antes, em 1960, foi agraciado com a Medalha do Mérito Esportivo, pelo Conselho Nacional de Desportos.
O Liberal, 11/11/2018