A convite do presidente Rainero Maroja, em 1965, o advogado Ronaldo Passarinho entrou para a diretoria azulina, como vice-presidente de desportos amadoristas. Em 1968, a convite de Jorge Age, passou a diretor de futebol, temporada em que o Remo trouxe Amoroso do Botafogo (RJ) e foi campeão paraense, impedindo o tetra do Paysandu.
Na década de 70, o Remo viveu o auge, sob o comando de Manoel Ribeiro e Ronaldo Passarinho integrava o Departamento de Futebol. Nessa década, o Remo foi duas vezes tricampeão paraense e se destacou na disputa do Campeonato Brasileiro da Série A. Em 1990, voltou à diretoria, como vice-presidente de futebol, na gestão de Ubirajara Salgado.
Em 2003/2004, novamente foi guindado à vice-presidência azulina, em nova gestão de Ubirajara Salgado e o Remo foi campeão 100% em 2004. Nas temporadas de 2001/2012, com Sérgio Cabeça na presidência, ocupou a vice-presidência jurídica do Leão.
Ronaldo Passarinho tem 74 anos de idade e não foi presidente do Remo porque não quis, tendo recusado vários convites para ser guindado ao mais alto posto do clube. É um dos 10 grandes beneméritos do Clube do Remo. Destaca que na sua opinião, o Remo teve três grandes jogadores, os maiores de sua história: o goleiro Veliz; Amoroso e Alcino, atacantes. Nesta entrevista, Ronaldo Passarinho fala sobre sua última passagem pela diretoria do Remo.
No dia 27/11 o senhor efetuou prestação de contas perante os conselheiros do Remo, sobre sua gestão à frente do Departamento Jurídico da agremiação, mostrando o êxito alcançado com o Leão Azul contabilizando a economia de R$ 3,4 milhões relacionada aos processos na área da Justiça do Trabalho e anunciou que estava deixando a vice-presidência jurídica do Remo. Por que o senhor voltou?
Não. Não voltei. O Remo tem agora na sua área jurídica, o advogado Sérgio Reis, que ao lado do também advogado Pablo Coimbra são os responsáveis pelo êxito do Departamento Jurídico, ressaltando-se também a participação do advogado Thiago Araújo. O que eu fiquei encarregado de fazer, a pedido do presidente Sérgio Cabeça, foi fazer um levantamento de todos os processos do Remo na Justiça do Trabalho.
Que lição o senhor tirou dessa sua última atuação no Remo?
Durante dois anos à frente do Departamento Jurídico do Remo, conheci e aprendi a respeitar grandes magistrados trabalhistas e presto a minha homenagem à ilustre pessoa da juiza Ida Selene, titular, na época, da 13ª Vara, onde estavam concentrados todos os processos de execução do Clube do Remo. Hoje a doutora Ida Selene é desembargadora federal. Já no início deste ano, participei de uma reunião com a presença da doutora Silvana Matos (13ª Vara) e o desembargador, atual corregedor do TRT, Marcos Lousada Maia, magistrado íntegro e sensato.
É verdade que o senhor, apesar de tantos serviços prestados ao Clube do Remo, foi vetado do Departamento Jurídico azulino?
Quando a nossa chapa que concorreu à eleição para o Condel do Remo em 2010 e elegeu o Sérgio Cabeça para presidente (2011/2012), algumas pessoas trabalharam intensamente para isso. O Tonhão, o Ubirajara Salgado, dentre outros mais. Eu e o saudoso Djalma Chaves, no dia da eleição chegamos ao Remo às 07h da manhã e só me retirei após a apuração da última urna. A partir daí, com o Sérgio Cabeça já eleito, comecei a efetuar o levantamento de todos os processos nos quais o Remo estava envolvido na Justiça do Trabalho. No dia 05/01/2011, na posse de Sérgio Cabeça, fui surpreendido com a minha indicação para a vice-presidência jurídica do Remo. A partir daí comecei a fazer uma série de indagações, já que nenhum contrato do Departamento de Futebol passava pelo Departamento Jurídico. Certa noite, com a presença do presidente do Condel, Manoel Ribeiro e de Ubirajara Salgado, cobrei do presidente Sérgio Cabeça o porquê de os contratos não estarem sendo remetidos ao Departamento Jurídico. Fiquei sem resposta. E o Departamento Jurídico continuou sem receber nenhum contrato dos jogadores.
Como o senhor. soube, na realidade, que teria sido “vetado”?
Em julho de 2011, em uma reunião na Justiça do Trabalho, presentes o Manoel Ribeiro, Francisco Rosas, Domingos Sá, Sérgio Cabeça e eu, o presidente do Remo foi perguntado pela autoridade que conduzia a reunião por quê o Departamento Jurídico não recebia os referidos contratos dos jogadores. Sérgio Cabeça informou, na frente de todos, que eu havia sido vetado por uma “facção”, que o tinha apoiado na sua eleição à presidência. Não deixei, nesse momento, a vice-presidência jurídica porque todos os processos seriam redistribuídos e seria um caos. Saliento a minha desilusão, porque se os contratos dos jogadores profissionais tivessem passado por mim, o déficit do Remo seria bem menor.
[colored_box color=”yellow”]Dívida sofreu redução superior a R$ 3,4 milhões
Na explanação feita aos conselheiros remistas, em novembro de 2012, a dívida trabalhista do Clube do Remo, apontou Ronaldo Passarinho, era da ordem de R$ 7.863.671,17 em dezembro de 2010 e foi reduzida para R$ 4.448.746,31. O montante renegociado representou uma redução para os cofres da agremiação da ordem de R$ 3.414.924,86. Os acordos eram realizados diretamente com cada credor e o Remo levou ampla vantagem.
Diz Ronaldo Passarinho que se o terreno do Carrossel – como é chamada a área do Baenão que dá para a Avenida Almirante Barroso – fosse leiloado em dezembro de 2010, como chegou a ser programado pela Justiça Trabalhista, pelo valor de avaliação da época, de R$ 6,1 milhões, o clube ainda ficaria devendo na Justiça do Trabalho mais de R$ 1 milhão. Como a dívida remista foi reduzida para R$ 4,4 milhões, o Carrossel poderia ser leiloado na época pelos R$ 6,1 milhões que o Clube do Remo ainda teria um saldo da ordem de R$ 1,7 milhão.[/colored_box]
O Liberal, 10/03/2013