Dia 08/11 haverá a primeira eleição direta na história do Clube do Remo. É a tão almejada “democracia”, vinda para redimir os nossos próprios erros no Remo. Será? Infelizmente, não parece ser a solução para os problemas que angustiam a imensa coletividade azulina.
Começa pela desmoralização do Estatuto que só tem 1 ano de vigência, quando 100 vagas em disputa para o Conselho Deliberativo apenas 63 sócios se inscreveram. Sem dúvida é um Conselho que começa mutilado. O que está acontecendo é falta total de credibilidade. Há uma regra fundamental, que qualquer família sabe, e que no Remo não é obedecida: “gastar menos do que arrecadar”.
O que aconteceu nos últimos anos foi ao contrário, chegando ao ápice em 2014. Com os patrocínios comprometidos, tivemos uma folha salarial – só no futebol – de R$ 550 mil. Contratos mal feitos, ausência total de prévio conhecimento do setor jurídico, o que possibilitou que muitos atletas que ingressaram na Justiça do Trabalho, tiveram ganhos expressivos.
Nenhuma contratação “diferenciada” e, sim, jogadores sem raça, excetuando-se os da base, vieram pra o Remo, como por exemplo, Rogélio, Diego Silva, Thiago Potiguar, Eduardo Ramos, Ted, Bruno Arrabal, Athos, Zé Soares, Leandrão e outros, com salários muito acima da realidade do futebol paraense e, o que dizer de jogadores que vieram só para se aposentar? Por exemplo: Lopes, Rafael Morisco, Finazzi, Mendes, Ávalos e Santiago.
É interessante salientar o total abandono das divisões de base, que só sobreviveram graças a abnegação de Ulisses Oliveira e Paulinho Araújo, dentre outros. Perdemos grandes revelações que, com certeza, brilhariam no futebol paraense e é importante salientar que ganhamos quase todos os títulos nas sub categorias. Também não há a menor possibilidade de sabermos o valor arrecadado e o valor gasto, ferindo o principio constitucional da publicidade.
A palavra “gestão” é desconhecida pelos dirigentes e as promessas das duas chapas inscritas para o Conselho Diretor revelam uma pobreza de ideias, segundo a divulgação na mídia. De um lado, uma nova reforma do Baenão. E as cadeiras e os camarotes? Do outro, a construção de um CT no momento em que o Estado e a Prefeitura garantem a construção de dois (Remo e PSC).
Quanto aos treinadores que serão sondados, os nomes falados são de Wagner Benazzi (que acaba de rebaixar a Portuguesa-SP para a Série C), Flávio Araújo e, pasmem, o carrasco da base, Roberto Fernandes, que notabilizou-se por trazer um tal de Danilo Lins, que não jogou um só vez, além de outras pérolas.
A solução para os problemas do Remo está no exemplo do próprio Remo. Em 1998, quando Ubirajara Salgado assumiu a presidência, estavam marcados 4 leilões. Foi então criado o “Esquadrão Cabano”, somente com jogadores locais e de baixos salários. Os frutos foram colhidos em 1989, 1990 e 1991 com a conquista de um tricampeonato.
Entendo o Remo como amor, doação e paixão. Os que perdem a eleição, devem unir-se aos vitoriosos para a grandeza do Clube. Como exemplo, cito 1971, quando Manoel Ribeiro e eu perdemos a eleição para Dhélio Guilhon. O Remo terminava o calendário em julho. Meu tio, Jarbas Passarinho, era ministro da Educação e o Brigadeiro Jerônimo Bastos, era presidente do Conselho Nacional dos Desportos. Pedi ao Ministro Jarbas a sua influência para incluir o Remo na Série A.
O óbice era a capacidade do estádio, fato este sanado com remessa de numerário para a duplicação do Baenão, e, dando rigorosamente a mesma quantia ao PSC e a Tuna, esta construindo o ginásio Miranda Sobrinho. A prova irrefutável do que afirmo é que Remo e Tuna outorgaram através de votação dos seus Conselhos Deliberativos, o título de sócio benemérito e o PSC o título de sócio honorífico ao Ministro Jarbas Passarinho. Hoje o Remo só tem êxito na natação, futsal e nas regatas. Os outros esportes estão relegados ao desamparo.
Aconselho, como sócio proprietário desde 03/11/1952, uma medida urgente para o saneamento: “parar de vez com contratações absurdas”. Não irei votar em nenhuma das chapas. Minha avó dizia que “coisa oferecida não tem preço”. Não fui procurado, nem para sugerir nomes ao Conselho Deliberativo e muito menos apoiar a quem quer que seja.
A única alegria que me dá esta eleição é ver a união dos “jovens rebeldes” com as “múmias”, por eles assim denominados, apoiando o Remo como um todo. Jamais deixarei de ser remista e não me importa quem for o presidente. Quero, junto com o Fenômeno Azul, voltar as alegrias de ser torcedor do Filho da Glória e do Triunfo.
Como múmia descartada, recolho-me ao meu sarcófago.
Ronaldo Passarinho.
Diário do Pará, 02/11/2014