Quando os conselheiros do Remo, por unanimidade, isentaram o ex-presidente Zeca Pirão de culpa por seu curto mandato, uma chuva de questionamentos imediatamente veio à tona. O principal motivo: a venda das cadeiras e camarotes. Afinal, onde está o dinheiro das vendas e para que ele foi usado?
Aos 56 anos, visivelmente mais magro, o ex-presidente não esconde a mágoa com a perda da eleição, mas também não lamenta o tempo em que passou na presidência.
“Fiquei praticamente falido, mas fui campeão paraense depois de 5 anos, derrotamos aquele time do Paysandu, o ‘sistema’, ‘peitei’ a FPF, chegava 07h e saía 22h. Deixei a família de lado e ainda me proporcionam a essa injustiça?”, indaga.
Quando foi acusado por muitos de desviar verba do mega-projeto de revitalização do Baenão, ele não deixou por menos.
“Nós vendemos 120 cadeiras e 22 camarotes. Praticamente R$ 700 mil. Esse dinheiro daria para fazer a fundação e os pilares. Nós fizemos a fundação e a base para os pilares. Falta apenas a mão de obra e o concreto para subi-los”, disse Pirão, que explicou por que o prometido não foi cumprido.
“Só para chegar na fundação, derrubar tudo, colocar o maquinário lá dentro e fazer a fundação se gastou R$ 400 mil. Para fazer as cadeiras e não ver gramado, alambrado, rampa, rede de água, rede elétrica, banheiro pronto, o que adianta fazer as cadeiras? Reformei o principal e em cima disso poderia trazer dinheiro para chegar nas obras das cadeiras e camarotes”, observa.
“Usamos esse dinheiro no gramado, drenagem, rampa, banheiros, rede de água, parte elétrica, pintura, telhado, alguns projetos pagos e a estrutura do vidro temperado. Essa verba foi usada para custear a parte estrutural do estádio. Para o gramado, a Ambev deu R$ 120 mil, o que só pagou a mão de obra, para ficar em um exemplo simples. Ela passou 5 meses para pagar. Desse valor, assinei uma duplicata e só vieram R$ 110 mil”, argumentou.
No Condel, Pirão foi absolvido por 59 votos a 1. A “lavada” aconteceu minutos após um integrante do Conselho Fiscal se limitar a dizer que as contas estavam aprovadas, mas por falta de quórum do Condel não haviam sido analisadas.
“Três membros analisaram as minhas contas. Fui o único presidente a prestar conta todo mês. Eles fiscalizaram 2 anos, até do tempo do Sérgio Cabeça. Está tudo regular, com nota fiscal, é só procurar”, diz.
Segundo ele, a facilidade de se abastecer do bem azulino é gritante, mas este nunca foi o seu propósito.
“O Remo é muito fácil de roubar. Para alguém fazer isso, é preciso ser muito vagabundo. Tratava o clube como um filho. Os sócios pagam R$ 50 e recebem um papelzinho. Uma pessoa mal intencionada pode falsificar esse papel e ficar com o dinheiro. Isso é apenas um meio”, alerta.
Pirão garante que não usou dinheiro do clube. Com dívidas familiares em cerca de R$ 600 mil, ele conseguiu elevar a autoestima do clube e da torcida, mas perdeu tudo com a derrota para Minowa.
“Antes da eleição, tinha ido a São Paulo e fechado com a BWA a construção das cadeiras. Fechei com um grupo atacadista a reformulação do Remo. Eles iam entrar com R$ 400 mil mensais, mais alguns jogadores, entre eles o (ex-atacante bicolor) Bruno Veiga. Eles queriam em contrapartida 50% da venda dos jogadores, o que achei justo”, revela.
Para o futuro, Pirão não faz plano, mas tem uma única certeza. “Estou tentando me reerguer e, quando isso acontecer, vou voltar, terminar a obra e entregar para o clube”, finaliza, descartando uma possível candidatura imediata, caso Minowa seja destituído no dia 15/07.
Diário do Pará, 10/07/2015