A política anda tão rasteira e traiçoeira no Brasil que sua influência se espraia pelos mais diversos níveis de atividade. É o que se observa na campanha para a eleição presidencial do Remo.
Definida a composição da comissão que irá analisar o relatório do Conselho Fiscal, que traz duras acusações ao presidente André Cavalcante, e a defesa apresentada por este, um detalhe crucial chama atenção.
Para surpresa de quase ninguém, dentro do clima de manobras de bastidores que assolam a campanha eleitoral, os membros da comissão têm vinculação notória com o presidente do Conselho Fiscal e com a chapa 10, encabeçada por Manoel Ribeiro.
O lado ruim dessa história é que, por mais que a análise dos relatórios seja a mais isenta possível (e não há razão para duvidar da idoneidade de ninguém), carregará sempre um fio de desconfiança quanto aos seus objetivos.
Há no Direito o princípio da “suspeição” justamente para casos dessa natureza, impedindo que alguém com interesse direto ou indireto em determinado processo possa analisá-lo e julgá-lo. Portanto, nenhum dos conselheiros escolhidos para a comissão poderia ter aceitado a incumbência.
Ocorre que no Remo atual as regras básicas de convivência têm sido atropeladas e afrontadas por expedientes ditatoriais, como a negação do contraditório, princípio elementar e sagrado em qualquer esfera judicial.
Como dizia antigo alcaide de Belém, aqui a Lei é potoca. Os azulinos fazem um esforço monumental para transformar a frase em verdade incontestável. Ataques verbais de baixíssimo calão deram o tom das últimas reuniões no clube, para estupor de antigos dirigentes e beneméritos. Quando a desinteligência entra em cena, o bom senso sai pela janela.
O clube atravessa um de seus mais inglórios momentos, necessitando mais de união de esforços para vencer os gigantescos desafios impostos por dívidas e pendências acumuladas ao longo da última década.
É fundamental que todos tenham a exata dimensão de suas responsabilidades, mas ao que parece, essa noção de grandeza foi deixada de lado. Prevalece a ambição desmedida pelo poder e pelos holofotes, materializada nos truques e baixarias. Assusta que neste cenário de tantas incertezas não surjam vozes lúcidas para aplacar a tormenta fratricida que ameaça afundar de vez a nau azulina.
Blog do Gerson Nogueira, 29/10/2016