A visão de jogo do torcedor sempre deve ser respeitada. O espetáculo do futebol é para a satisfação do apaixonado pelo clube. Entretanto, esse mesmo torcedor precisa tentar entender e respeitar a visão e as estratégias do treinador. Cada um enxerga o futebol à sua maneira e de acordo com suas funções, havendo espaço para diferentes e aceitáveis interpretações acerca do que acontece no campo. A partir daí, para o enriquecimento dos debates entre os setores, faz-se necessária a busca pela compreensão dos processos e do contexto em que o Remo está inserido, visando obter as melhores conclusões sobre a campanha e o rendimento da equipe na Série C.
No último jogo, contra o ASA (AL), houve muita controvérsia no segundo tempo, quando, já com o placar favorável, Léo Goiano optou por retornar à configuração tática com 3 volantes. Muitos torcedores reclamaram, xingaram e disseram que o treinador recuou o time faltando bastante tempo e chamou o adversário de volta ao jogo. Esta vertente é compreensível em se tratando de paixão e nervos aflorados pelas circunstâncias, mas não é a mais aceitável quando se observa pela ângulo do treinador e as necessidades do time e do jogo. Ampliar o foco para enxergar coisas não tão claras significa aumentar o entendimento dos planos tático e estratégico que fazem parte dos processos do futebol.
Pensando no momento da competição e no estágio inicial do trabalho, além do fato de precisar pontuar, Léo Goiano observou e compreendeu a falta de entendimento de alguns jogadores em jogar sem a bola, não cumprindo suas funções táticas quando a equipe não tem a posse. Diante disso, entendeu que uma formação abrangendo 3 volantes possibilita um equilíbrio um pouco melhor e exime, de certa forma, Eduardo Ramos e Pimentinha de trabalhos mais “físicos”, voltando suas atenções às organizações e transições ofensivas. Assim, e com a visão macro do trabalho, vai dotando o elenco de ideias e funcionamento do sistema, buscando um mínimo integração entre os setores e certa organização tática.
É importante frisar que Léo Goiano quase não recebeu herança coletiva dos técnicos anteriores, fazendo com que seu trabalho pareça uma pré-temporada em termos organizacionais. Por isso, e tendo que ganhar a confiança do elenco e da torcida conquistando pontos, escolheu preencher os espaços externos com o retorno de um terceiro volante após o 1 a 0 no placar, já que manter a formação que conseguiu o gol seria atuar sem 4 jogadores cumprindo funções defensivas e deixar o jogo especulativo demais, aberto à trocação de golpes contra um adversário que tinha muito menos a perder. O treinador azulino tentou ter um mínimo de controle das ações diminuindo o número de transições defensivas, talvez a fase do jogo que o Remo menos domina.
Sabemos que jogar com 3 volantes passa uma conotação defensiva, mas a alteração não foi para recuar o time e chamar o ASA (AL), e sim atraí-los para atacá-los com Eduardo Ramos retendo e temporizando, Flamel lançando e Edgar atacando espaços em desmarques de ruptura ou obtendo vitórias pessoais no mano a mano com algum zagueiro rival. Às vezes, colocar ou manter mais atacantes é dar um tiro no pé, mandando o controle do jogo para o espaço. Além disso, os alagoanos não criaram jogadas trabalhadas, limitando suas chances às bolas paradas e chutes de longas distâncias devido à precipitação dos remistas nas abordagens defensivas ao portador da bola, este sim, um ponto a ser melhorado no princípio da contenção e das ajudas defensivas.
As sensações causadas com 3 volantes não são as melhores, mas é necessário entender tudo que cerca uma partida. Futebol tem grande influência do acaso e, ao tentar diminuir a casualidade, mesmo com 3 volantes, Léo Goiano acertou na estratégia e na manutenção de sua convicção do equilíbrio com a trinca à frente da última linha defensiva.
Essa não é uma defesa de Léo Goiano, mas uma tentativa de fazer com que o torcedor olhe mais para os processos que envolvem o esporte, assimilando melhor o que a partida pede. A paixão aflorada é corretamente vinculada ao torcedor, mas uma maior racionalidade facilita na continuidade e assentamento das bases do trabalho. O plano estratégico nem sempre agrada ao torcedor, mas ele precisa entendê-lo para poder elogiá-lo, criticá-lo, aceitá-lo e compará-lo com o desempenho final no jogo.
Texto enviado por: Caíque Silva » Twitter
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