Mais por necessidade do que por convicção em si, Léo Goiano alterou o sistema tático do Remo inserindo Flamel. A simples inserção de mais um meia na onzena titular traz consigo a crença de um time mais criativo. Entretanto, isso não tem sido visto dentro de campo, mas também não significa que coisas positivas não aconteceram. Não houve aumento ou diminuição no número de chances nem na posse de bola, indicadores comuns quando se quer avaliar a capacidade criativa de um time de futebol.
Ao contrário da impressão, Flamel não aumenta o poder criativo do Remo. Porém, com ele em campo, todos os jogadores dos setores intermediário e ofensivo sobem de rendimento, recebendo em melhores condições e tendo sempre em Flamel uma opção de passe próxima para tabelar, associar ou lançar. É um atleta que atua nas intermediárias não para decidir as jogadas, mas indicando e facilitando os caminhos para que elas sejam decididas, finalizadas. É o homem responsável pelo penúltimo passe, tão ou mais importante que a assistência propriamente dita.
Outra questão, e talvez a que gera e ilustra tudo o que Flamel aporta ao time, é a velocidade modulada. Lorenzo Buenaventura, preparador físico das equipes de Pep Guardiola, assim define velocidade modulada:
Nosso atacante talvez seja mais lento que o defensor rival, mas não o enfrenta com um sprint puro, e sim jogando com as pausas: ameaça, engana, arranca, freia e, quando o marcador também freia, então ele volta a arrancar… Neste jogo, ainda que ele seja mais lento, chegará muito antes ao objetivo.
Ao se analisar tal definição, conclui-se que Flamel faz basicamente isso dentro de campo, atraindo e iludindo o marcador para acelerar em seguida através de um passe.
Isso permite colocar seus companheiros em melhores condições receptoras e em superioridade posicional, fazendo com que ganhem tempo e espaço para a continuação das jogadas. A velocidade modulada é crucial no futebol atual. Sem ela, dificilmente uma equipe consegue exercer dominância no campo de jogo.
O Remo faz suas melhores partidas na temporada quando Flamel está atuando. Por mais que não apareça tanto para a torcida, esses instantes com a bola viram soluções criativas nos segundos seguintes, fator fundamental para a conquista das vitórias.
O maior exemplo de benefício através de Flamel é quando se olha para Eduardo Ramos. Sempre que atuam juntos, Eduardo consegue se destacar, pois atua mais à frente, atendendo a tendência evolutiva de sua carreira. Por atuar em zonas mais perigosas, o meia azulino consegue infiltrar e chegar na área, sem falar que suas conduções são realizadas em menos metros, auxiliando a questão física, e ainda torna-se decisivo.
Quando recua para qualificar a saída, Flamel libera áreas nos meso-espaços, convidando os jogadores de frente a realizarem desmarques de ruptura e apoio, confundindo os encaixes de marcação e assentando o Remo no campo de ataque.
Seu posicionamento recuado também influi nos movimentos dos laterais, que sobem levando os extremos rivais e habilitam os volantes a receberem em segurança no meio-campo. Sua liderança técnica satisfaz a todos no time e o Remo tem sabido tirar proveito disso.
Por fim, fica evidenciado que Flamel tem enorme importância no funcionamento coletivo do Remo, independente de sistema tático. A partir de sua posição, realiza diversas funções. Não é o especialista no acabamento das jogadas, mas sua construção até o acabamento é a melhor opção ao Remo nesta Série C. É o tipo de jogador que faz os outros se destacarem e serem melhores, sendo este um artigo raro no futebol.
Flamel é lento? Atleticamente sim, mas sua modulação outorga a si um peso futebolístico e coletivo que Léo Goiano precisa aproveitar. O Remo não é mais criativo com Flamel, mas tem maior probabilidade de aproveitar as chances quando criadas. Modular para criar, esse é o segredo!
Texto enviado por: Caíque Silva » Twitter
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