Guilherme
Guilherme

Da derrota nos pênaltis na final do Campeonato Paraense, em jogo para poucas testemunhas, à eliminação da Copa do Brasil, jogando para quase 30 mil torcedores no Mangueirão, os atletas do Sub-20 do Remo viveram, em uma breve jornada, o grande sonho de ser jogador de futebol. Destaque na imprensa, estádios lotados, nomes lembrados pela torcida, assédio e até cobrança desleal. Tudo isso os jovens jogadores do Leãozinho viveram em uma campanha histórica que fará com que esse segundo semestre sem competições oficiais do time profissional seja lembrado de forma menos amarga do que os anteriores.

Quando a última fagulha de esperança de disputa da Série D se esgotou e a realidade de não ter competições para disputar se estabeleceu, surgiu o convite para a disputa da Copa Norte Sub-20. Desapontada com seu time profissional, a torcida azulina abraçou a equipe de base e o Leãozinho virou Leãozão, atraindo públicos entre 3 e 5 mil torcedores por jogo.

“Morava em Barcarena e trabalhei como padeiro por muito tempo. Acordava às 04h para pegar a balsa das 05h e vir treinar. Foi graças a essa competição que ganhei meu primeiro contrato como atleta profissional”, disse o atacante Sílvio, autor do gol do título da Copa Norte.

A estreia na Copa do Brasil deu uma ideia de como poderia ser a participação da torcida, mas foi diante do Flamengo (RJ), com 25 mil torcedores, que o Fenômeno Azul se estabeleceu. O recorde de público da competição, estabelecido na final do ano anterior, foi superada em 4 mil pessoas nesse jogo. Na partida contra o Criciúma (SC), esse recorde aumentou para 27 mil pessoas.

“Nesse momento, a principal fonte de renda do Remo tem sido os jogos da equipe Sub-20. Foi através dessas rendas que nós pagamos os salários atrasados dos funcionários e do próprio futebol profissional”, afirmou o presidente do Remo Zeca Pirão.

Com uma geração talentosa, onde boa parte dos atleta estourou a idade para competir na base, fica agora a esperança de que cada atleta construa seu espaço no futebol profissional. Se eles não mais voltarão a jogar como o time que chegou às quartas-de-final da Copa do Brasil, fica para a história a marca do time que, pela primeira vez em seus 108 anos, fez o Remo pensar na disputa de uma Taça Libertadores da América – Sub-20, mas é a Libertadores, assim como esse time de base também representou o Leão.

[colored_box color=”yellow”]Carta à torcida azulina

Chegamos às quartas-de-final da Copa do Brasil Sub-20 e a sensação que ficou foi a de dever cumprido. Olhando as demais equipes que chegaram nessa fase, nós éramos o grupo que contava com menos estrutura, então acho que fomos bem longe. Colocamos o Remo na história com essa participação em uma competição de visibilidade nacional e internacional e também entramos para a história do clube ao participar dessa campanha.

Apesar da qualidade dos adversários, penso que talvez pudéssemos ter avançado mais. Tínhamos um grupo forte, poderíamos ter vencido o Criciúma (SC), mas acho que a pressa em fazer o segundo gol antes do primeiro atrapalhou muito. Não vou esquecer esse grupo, éramos todos muito unidos. Um grupo onde todos os jogadores conheciam os pais e mães dos colegas. As vezes namoradas, filhos, era uma amizade que ia além do campo.

Entre as pessoas que mais nos ajudaram a chegar lá, não vou esquecer do professor Valtinho. Ele foi fundamental. Em suas preleções conversava sobre muitas coisas além do futebol, como o futuro, a responsabilidade e a importância de se pensar em uma carreira como jogador se quisermos ajudar ou construir nossas famílias. Ele nos orientava muito bem e no final pedia apenas para subirmos no gramado e nos divertirmos, jogar com alegria. Essas lições vão ficar.

Ao fim, quero principalmente agradecer ao torcedor, que nós temos sentido mais próximos desde a Copa Norte Sub-20. Naquele momento que eles passaram a nos apoiar, viram que a equipe tinha qualidade e podiam esperar dela, e nós mesmos nos sentimos mais motivados a ir mais longe. Subir ao gramado do Mangueirão e encarar o público do jogo contra o Flamengo (RJ), o maior da minha vida até então, era a imagem da perfeição. Era como ver Deus no sorriso, no grito e no apoio de cada uma daquelas pessoas que saíram de suas casas e atravessaram diversos caminhos para ir nos apoiar. A torcida do Remo é maravilhosa e merece todos os elogios e todas as vitórias.

Tenho 20 anos de idade, meu contrato com o clube vai até dezembro de 2014. Ofertas para jogar em outros clubes surgiram e a direção tem analisado, contudo a minha vontade é de permanecer aqui com a minha família e com a torcida e ajudar o time profissional se reerguer em 2014.

Atenciosamente,
Luis Guilherme Neves, o “Guilherme”[/colored_box]

Diário do Pará, 27/10/2013