Charles Guerreiro
Charles Guerreiro

O meu entrevistado de hoje é o aniversariante do dia, Charles Guerreiro, treinador do Clube do Remo. Charles faz hoje 50 anos de idade, casado com a dona Silvana e pai da Yasmim, Jéssica e Carolina. É avô da Geovana. Filho da dona Valderina e do seu Hélio (Gege) que mora no céu, o treinador bateu um papo com o colunista em Salinas.

Pela obrigação de conseguir a vaga na Série D, esse é o seu maior desafio na carreira como treinador?

É o maior desafio porque se trata de um clube grande e de massa. É uma responsabilidade de seis anos em busca de uma Série. O importante nisso tudo é que o ser humano vive de desafio e estou pronto para assumir essa responsabilidade e sabendo da cobrança. No Remo, hoje, alguém teria que assumir essa responsabilidade e sobrou para um treinador local como eu.

Como treinador local e sabendo como é o Campeonato Paraense, você acha que leva vantagem?

Levo vantagem porque joguei como atleta e trabalho como treinador também. Sei o que precisa o Campeonato Paraense, não podemos abrir mão, por exemplo, dos jogadores paraenses que são mais adaptados. Os jogadores que vem de fora, vão trazer mais qualidade, mas vão precisar dos guerreiros aqui da casa para carregar o piano.

Por falar nos novos contratos, você fez parte de todas as escolhas para esse novo elenco?

Veja bem, não indiquei os atletas. Os atletas que indiquei quando cheguei, não foram contratados. A diretoria foi quem contratou, mas me participou sobre todas as contratações e indiscutivelmente são todos jogadores de qualidade e dei o aval, sim. Os atletas que pedi foram jogadores mais baratos, mas a diretoria viu a necessidade de trazer jogadores mais caros e até com mais qualidade.

Os últimos treinador que passaram pelo Remo detectaram que muita gente atrapalha o trabalho do dia a dia. Continua assim?

Não posso falar, pois só joguei amistosos até agora, mas no dia a dia realmente existe muita vaidade. Todos precisam entender que estamos no mesmo barco e temos que nos unirmos para buscar o nosso objetivo. Tenho conversado com o grupo e pedindo somente atenção com o trabalho. A vaidade desse ou aquele dirigente ou funcionário, que fique de lado e não podemos mudar o foco.

Qual a maior preocupação sua à frente do Clube do Remo?

Tenho conversado com o presidente e colocado que o grande segredo do futebol é estrutura de trabalho, e, principalmente, pagamento em dia e deixar o treinador local trabalhar. Hoje, pagar salário em dia ajuda muito o trabalho. Dá credibilidade não só para a diretoria, como também para o clube. Até porque a diretoria e a comissão cobram do atleta e não podemos cobrar sem oferecer.

Como é lidar com o presidente Zeca Pirão que tem um gênio forte e faz cobranças?

O tempo de convívio que tenho com o presidente vejo que é uma pessoa sincera. Ele mesmo já disse em reunião que a personalidade dele é forte e sei que teremos dificuldades com o presidente. Ele é uma pessoa ativa, que cobra, é apaixonado pelo clube e vai cobrar de todo mundo. Como ele disse que jogou futebol e entende de futebol, ele já disse que vai dizer se jogador estiver mal e até o treinador. Mas entendo o presidente e sei que ele é assim e quer o bem.

O time que vai começar o campeonato paraense poderá contar já com os novos contratados?

Hoje, só temos o Diogo, lateral-direito, o Rodrigo Fernandes, lateral-esquerdo e o Zé Soares que já estão no grupo. O desmais jogadores só se apresentam no dia 02/01 e vão precisar trabalhar, se preparar e vamos ter um período de treinos que vão mostrar a condição de cada atleta. Precisamos de todo mundo 100%, já que queremos começar vencendo e isso vai ajudar muito o nosso trabalho aqui.

Você tem fama de ser um treinador calmo, amigo dos jogadores e isso até já pesou contra você. Algo mudou nesse estilo seu?

Tem pessoas que às vezes tentam ajudar, muitos já chegaram comigo dizendo que tenho que mudar meu estilo, principalmente no banco. Tem muito treinador que fica gritando. Tenho minha maneira e foi assim que cheguei ao Remo. O próprio Oswaldo de Oliveira é calmo. O técnico campeão brasileiro, pelo Cruzeiro (MG), não dá um grito. Então, não precisa gritar. Não vou mudar a minha maneira de trabalhar e trato todos com respeito, mais cobro também.

Existe fantasma contra você e seu trabalho? Você se sente seguro e em paz para trabalhar?

Tem gente que foi contra a minha contratação. Treinador de fora tem sempre a preferência e treinador local tem que ter Deus do lado. Já fiquei sabendo de gente do Remo que já tentou trazer e já ligou para colegas de fora. Quem me contratou foi o presidente, é nele que confio e não pedi para vir para o Remo. Estava em Paragominas, ganhando bem, com respeito na cidade e foram me buscar.

Qual o sistema de jogo ideal para disputar o Campeonato Paraense?

Um time grande e com essa torcida, precisa vencer. O Parreira fala que o único esquema de jogo que não sai de moda é o 4-4-2. A própria torcida gosta assim e você não inventa. Para um clube grande você pode também ter a variação para o 4-3-3 até pelas características dos atletas que temos no nosso elenco. Tenho laterais rápidos e atacantes que jogam pelo lado também rápidos.

Como conseguir fechar o grupo com jogadores com salários maiores e menores?

É não fazer divisão. Pagar quem ganha mais e quem ganha menos certinho. Não dar privilégio para ninguém e respeitar a todos. Cada um tem seu valor e cada um faz o seu contrato. Quando estava no Flamengo (RJ), o Romário chegou ganhando R$ 300 mil e eu ganhava e muito outros, no máximo, R$ 50 mil. Se pagavam o Romário, tinham que pagar todo o elenco e isso aconteceu. Futebol não tem segredo, paga que as coisas ficam menos difíceis.

Coluna de Abner Luiz, O Liberal, 22/12/2013