Conviver com cobranças diárias é uma rotina para o presidente do Clube do Remo. Há muita responsabilidade em jogo. Quem não sabe resistir a pressões precisa ficar bem distante de clubes de massa. José Wilson Costa Araújo, ou simplesmente Zeca Pirão, como gosta de ser chamado, paraense, 54 anos, engenheiro civil, é de família tradicionalmente remista e que chega ao mais alto cargo da agremiação azulina esbanjando sonhos. É vereador de Belém, foi presidente da Câmara Municipal e agora retornou depois de um período ausente.
O presidente de um dos clubes mais tradicionais da região Norte aceitou um debate franco sobre problemas comuns, perspectivas para 2014, contratações, dívidas, rivalidade, erros cometidos e até sobre a violência que continua preocupando frequentadores de estádios de futebol.
Como você avalia a temporada 2013? O que fazer para resgatar tantas perdas registradas nos últimos anos?
O Remo estava praticamente morto e sem qualquer perspectiva para 2013. Paramos no final de abril e inicio de maio, sem patrocínios para receber, pois tudo estava bloqueado. A preocupação era total. Graças a Deus apareceu a Copa Norte e fomos campeões na categoria Sub-20. Logo depois veio a Copa do Brasil da categoria onde a torcida deu apoio, mostrou sua força e podemos dar uma respirada nas dívidas. Na verdade recebemos uma injeção e passamos a respirar de novo. O tempo foi passando e comecei a conversar com diversos empresários, apresentando a situação, demonstrando a vontade de mudar o Remo em todos os sentidos, investindo em infraestrutura e já temos obras para mostrar como a do Baenão, Serra Freire, a nova Arena do Leão, recuperação do salão, restaurante, lanchonete entre outros melhoramentos. Estamos com três campos em Ananindeua, onde realizaremos os nossos treinamentos.
Com tantos problemas, como é possível honrar compromissos do passado e ainda realizar investimentos em termos de contratações, por exemplo?
Estabeleci algumas normas para definir uma ordem de prioridades. Por exemplo, em primeiro momento, coloquei a todos que dívidas passadas não seriam pagas enquanto não colocarmos o Remo em um rumo certo. Já colhemos o resultado dessas medidas. Antigamente os compromissos com funcionários não eram priorizados. Hoje acontece o contrário e temos recursos para honrar. Até abril de 2014 espero estar rigorosamente em dia com todos os funcionários. Ao assumir, tinha funcionário há mais de um ano sem receber. O raciocínio vale para os jogadores. A questão do “como fazer” é difícil de explicar. Creio em Deus a frente do projeto. É muito difícil você estar sem perspectiva financeira, mas de uma hora para outra aparece um amigo para colaborar. Já recebi doações de R$ 40 mil, R$ 20 mil e em função de tantos amigos vamos honrando os compromissos. Tudo isso tem sido realizado primeiramente com as graças de Deus, depois com a participação de nossos amigos, remistas e não remistas. Peguei o Remo com muita coisa errada. Para se ter uma simples ideia, em uma semana economizamos mais de R$ 30 mil só com o afastamento de pessoas que em nada contribuíam com o clube e só traziam ônus.
O que está faltando para o futebol paraense retomar seu crescimento?
É preciso que o Governo se sensibilize que a alegria do povão é ver Remo e Paysandu jogando. O Governo do Estado e a Prefeitura precisam ajudar os clubes, pois estará alegrando os torcedores. Nos outros Estados já existe uma contribuição significativa aos clubes. Nós temos a necessidade de um maior envolvimento dos governos estadual e municipal com os clubes, afinal Remo e Paysandu contam com milhões de torcedores que saberão reconhecer tal esforço. É o que espero para 2014. Sei que temos, eu e o Vandick (Lima, presidente do Paysandu), uma parcela muito grande de responsabilidade para mostrar ao torcedor quem está ajudando. Vamos enfrentar um ano eleitoral e o investimento nos clubes de massa certamente dará retorno ao governador, senador entre outros que vierem a ajudar.
Pelo menos na teoria, o Remo está apostando alto. Jogadores de qualidade estão sendo contratados. Qual a expectativa do presidente quanto ao novo time?
Estou muito tranquilo. Era necessária uma ampla mexida no Clube do Remo e conversei muito com a minha diretoria. Precisávamos de um elenco forte para suprir três competições importantes no primeiro semestre. A ideia é um time forte que esteja em condições de ganhar, inicialmente, o campeonato estadual. As contratações de hoje são fruto de um planejamento de quatro meses atrás. Já conversei com todos os jogadores e fui bem claro. Eles foram contratados para ser titulares, mas isso não significa que eles serão. Deixei claro ao (técnico) Charles Guerreiro que pode ser quem for, Eduardo Ramos, Athos, Max, Leandrão, se não corresponder não será titular. Se o Charles colocar, ele pagará o pato e sairá do clube. Não vou aceitar erros. O Remo não ganha nada há praticamente seis anos. A torcida não aceita novo tropeço. Não posso aceitar mais um ano de tropeços. Vou cobrar muito.
O Brasil acompanhou estarrecido aos incidentes de Joinville com as torcidas de Vasco (RJ) e Atlético (PR). O saldo de 2013 em matéria de violência deixou 30 mortos e centenas de feridos. Belém não é exceção. Re-Pa virou jogo de alto risco. Como você se prepara para esse enfrentamento?
Estamos em contato permanente com Ministério Público, Polícia Militar e todos os órgãos envolvidos. Minha tolerância será zero. Não vou aceitar que o Remo seja prejudicado. Terei ainda uma última conversa com os líderes de torcidas organizadas e minha posição é muita clara. Torcida é para torcer. Pode até vaiar, mas vandalismo não será tolerado. Hoje a responsabilidade também é do presidente do clube. Não vou dar chance para o azar. Se o primeiro jogo houver qualquer tipo de confusão, pode ter a certeza de que os culpados serão punidos e impedidos de entrar no Baenão ou Mangueirão. Além das catracas, nós vamos colocar filmadoras e circuito interno de TV para identificar e punir exemplarmente que fizer confusão.
Dia 26/01 tem o primeiro Re-Pa. O que o presidente do Remo alerta seu colega do Paysandu?
Não tenho recado para o Vandick. Sou amigo de todos no Paysandu. Não estou tão preocupado em ganhar o jogo. Isso é muito relativo. Ano passado ganhamos 95% dos jogos e perdemos na semifinal. Ganhamos três vezes do Paysandu e nem chegamos na final. Este ano poderemos até perder o clássico, mas nosso objetivo é ser campeão. A exemplo do Vandick, quero ser campeão do primeiro turno porque o segundo será ainda mais apertado. Teremos outros campeonatos a partir de fevereiro. Nosso objetivo é ser campeão para tirar essa uruca de seis anos.
O Liberal, 29/12/2013