A tarde de domingo no Mangueirão, por diversos fatores, parecia ser tranquila. O clima ameno, a grama bem cuidada e as arquibancadas cheias. Mas um elemento provocou apreensão. A proibição de três torcidas organizadas azulinas, por parte do Ministério Público Estadual, de frequentar estádios dava mostras antes mesmo do início do jogo que seria fator de tensão. Nas rádios, notícias davam conta de confusão envolvendo policiais e um ônibus fretado por uma dessas organizadas, que insistia em ir ao jogo caracterizada. Alguém parecia fazer questão de não abrir mão do “seu espaço” no estádio. E não abriu.
Dez minutos antes do início do jogo, de forma conjunta, os membros da “Torcida Remista” (extinta Remoçada) tomaram os lugares que costumavam ocupar nas arquibancadas. Sem as camisas, bandeiras e baterias, iniciaram seus gestos, cânticos e gritos de guerra característicos. Mais do que ignorar a proibição de frequentar os estádios, os membros dessa torcida fizeram questão de ignorar inclusive a extinção legal que ela foi submetida. Nas arquibancadas não se ouvia brados por “Remista”, eram sempre para a “Remoçada”.
Onde essa torcida se alojou, o clima foi pesado. Notavelmente muitas pessoas ficaram revoltadas com a medida proibitiva. Antes e depois do jogo houveram protestos, em meio aos gritos de guerra e provocação, contra a medida proibitiva. Eles continuavam em maior número e mesmo sem a bateria ofuscavam as outras organizadas.
Poucas vezes se viu um clima de real integração – a festa da “Remoçada” era à parte do resto da torcida e quase sempre exaltava mais a si mesma do que o próprio Clube do Remo. Torcedores comuns e membros de outras torcidas algumas vezes se uniram ao coro da organizada, mas estes não se uniam a ninguém. Justiça seja feita, não se viu menção a “Piratas Azulinos” e “Pavilhão 6”, as outras duas torcidas afetadas pela determinação legal.
O clima no meio da torcida refletia o próprio clima da “Remoçada”. Conforme se afastava da torcida, se via uma feição mais familiar. Torcedores folclóricos fazendo brincadeiras e se divertindo marcaram presença, mas quase sempre fugindo da proximidade dessa torcida. Houve provocação com o derrotado Paragominas, houve cantos de amor ao Clube do Remo e houveram muitos amigos e familiares curtindo o jogo afastados, mas a participação ruidosa da extinta torcida ofuscou a festa do torcedor comum e deixa apreensão para o confronto entre as torcidas rivais nos próximos finais de semana.
Fogo e fumaça
As partidas do final de semana transcorreram sem ocorrências ou problemas envolvendo os torcedores, mas contaram com a chamada de atenção do Corpo de Bombeiros. Tanto na Curuzu quanto no Mangueirão as torcidas usaram de sinalizadores objetos inflamáveis para produzir luz e fumaça na comemoração dos gols. Esses itens entram na categoria legal de “objetos explosivos” que foram proibidos nos estádios justamente pelo risco que representam à torcida que pode se queimar e por eventualmente poder ser usado como arma. A fiscalização precisa ficar mais atenta.
Artilheiros podem ser punidos
Na noite de sábado, Rafael Oliveira comemorou seu terceiro gol correndo para o local das arquibancadas onde a extinta “Terror Bicolor” costumava ficar. Rafael fez o gesto característico. Não foi só ele…
No domingo, o remista Fábio Paulista, ao ser substituído, fez questão de abandonar o gramado fazendo o gesto característico da “Remoçada”. Os atletas estavam apenas comemorando sua atuação ou os resultados do time mas, sem saber, também estavam transgredindo a lei.
A determinação de extinção das torcidas prevê a punição de quem fizer apologia a estas, e essa é uma lei tanto válida para o torcedor como para figuras públicas como atletas e dirigentes. O advogado André Cavalcante fez postagem na rede social Twitter alegando que esses gestos podem ser legalmente caracterizados como apologias proibidas. “O Procurador do Tribunal de Justiça Desportiva é Promotor Público. Tem o duplo dever de pedir as imagens e os transgressores”, postou o advogado.
Diário do Pará, 18/02/2013
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