O jovem Ronielson da Silva Barbosa tinha 18 anos e era atacante do Grêmio, time amador da Vila de Quadros, que fica no município de Magalhães Barata, interior do Pará. O garoto via no futebol apenas um lazer, uma diversão para desafogar a intensa rotina de trabalho, quando tinha que se dividir entre as tarefas da roça e da fabricação de farinha de mandioca.
Essa parece até uma daquelas narrativas de novela, mas era a realidade de Rony, como prefere ser chamado, até o final do ano passado. Hoje ele é a maior revelação do Clube do Remo na temporada e uma das grandes esperanças de gol no clássico Re-Pa desta quinta-feira, 22/05.
A história de Rony começou a mudar em fevereiro, quando um conhecido, que mora em Belém, resolveu apostar nas suas jogadas de velocidade, e prometeu levá-lo para fazer testes nos grandes clubes da capital. A primeira parada foi na Tuna Luso, mas não foi aprovado. Em seguida, um time de Ananindeua, porém, novamente recebeu um “não”. Quando as esperanças já estavam desaparecendo, a grande chance no Remo. Dali, não demorou para a primeira oportunidade no profissional.
“Esse rapaz já havia me prometido trazer antes para Belém, mas as condições financeiras atrapalhavam. As coisas melhoraram um pouco e saí da minha cidade para fazer esses testes, até chegar ao Remo. Joguei a semi e a final do Paraense Sub-20. O técnico Valtinho gostou do meu futebol na Copa São Paulo e me indicou para o profissional. O Valtinho é como um pai para mim, só eu sei o quanto me ajudou”, declarou.
Porém, antes de assinar o primeiro contrato como jogador profissional, Rony precisava ajudar nas despesas da casa da sogra, onde mora com a namorada. A saída era fazer um “bico” como motaxista. Ele diz que em dias de grande movimentação chegava a arrecadar até R$ 80.
“As coisas para mim sempre foram difíceis. O lugar onde morava em Magalhães Barata é muito pobre, tem que se virar e a saída era trabalhar na roça ou fazendo farinha para ajudar minha mãe. Já cheguei a passar fome uma vez, mas agora tudo está mais fácil. Essa oportunidade no Remo me ajudou bastante. Para quem não tinha nada, agora pelo menos posso mandar um dinheiro para minha mãe, mesmo que ainda pouco”, contou.
Com 19 anos completados neste mês, Rony assinou um novo contrato com o Remo até 2017. Ele vive a expectativa de receber o primeiro salário para guardar uma parte e o restante ajudar a família que ainda mora no interior. O sonho do jovem é poder, no futuro, fazer uma grande transformação na Vila Quadros, local onde é recebido como celebridade, com direito a fotos e autógrafos todas às vezes que retorna ao município.
“Estava me mantendo com o ‘bicho’ que a gente recebe depois dos jogos. Devo receber meu primeiro salário na próxima semana. Vou abrir uma conta poupança e guardar uma parte, o resto vou mandar para a minha mãe. Meu sonho é ganhar muito dinheiro, construir um casarão para a minha mãe e ajeitar a vila onde morava com a minha família. Quero fazer alguns campos de futebol e melhorar a situação das crianças que, assim como eu, procuram uma oportunidade no esporte”, planeja.
Rony já marcou 3 gols com a camisa do Remo no ano. O jogador considera o primeiro, contra o São Francisco, na sua estreia no time profissional, como o mais importante e emocionante, que levou a mãe às lágrimas na arquibancada do Mangueirão. Agora ele sonha em balançar as redes no Re-Pa e espera que a chance venha já no clássico de hoje.
“Fazer gol é sempre uma emoção. Nunca esqueço do primeiro pelo Remo, pois graças a Deus entrei e ajudei o time a empatar o jogo. Disputei o último Re-Pa e a expectativa agora é ir para cima, ajudar o Remo a ser campeão e, quem sabe, me consagrar com um gol. A gente sempre pensa nisso”, finalizou.
Globo Esporte.com, 22/05/2014