O Campeonato Paraense está em xeque. A fórmula de disputa do Parazão dá sinais de esgotamento e a própria Federação Paraense de Futebol, promotora do torneio, já se posiciona favorável a mudanças. Afinal, como se não bastassem os questionamentos sobre o nível técnico da competição, o Estadual ainda carrega o estigma de campeonato desgastante e deficitário.
Com mais de 100 anos de história, o fato é que o Parazão vive um momento tumultuado e não tem para onde fugir: já há questionamentos entre os clubes, que, com a FPF, são responsáveis diretos pelo declínio da competição.
Na mira dos times de Belém e do interior, está, primeiramente, o formato de disputa. Além da dificuldade para encaixar datas no calendário nacional, há uma matemática prejudicial, pois o prolongamento de um torneio deficitário é um problema para as combalidas finanças dos clubes paraenses.
Como se não bastasse, por um erro de cálculo da FPF, o Parazão 2014 entrou na lista dos campeonatos mais longos do Brasil. Somente alguns estaduais inexpressivos, como o acreano, sergipano ou tocantinense, estão lado a lado com o Parazão, ainda em andamento.
Na hipótese do Paysandu levar o segundo turno, o campeonato terminaria apenas em 08/06, encostado nas datas da Copa – apenas quatro dias antes do jogo Brasil x Croácia. Contabilizando todos os jogos que foram ou serão disputados, são pelo menos 68 partidas em quase cinco meses. O número é assustador e ganha novas proporções se analisarmos que a maioria destas partidas gera um lucro desprezível.
Estádios vazios são um cenário constante deste certame. Resultado: os borderôs de vários jogos do Estadual apontam lucros inferiores a dois dígitos. Jogos envolvendo clubes do interior são verdadeiros dramas.
Independente 2×1 Paragominas, uma das partidas de abertura do returno, resultou em um “lucro” de R$ 350, menos de um salário mínimo. A realidade também atinge os grandes. Jogo entre Gavião e Remo, em Marabá, gerou arrecadação inferior a despesas, resultando em déficit superior a R$ 2,5 mil.
Definitivamente, não é fácil fazer futebol no Pará e uma nova fórmula de disputa que torne o campeonato enxuto e financeiramente mais viável é iminente. Resta que os clubes e a FPF cheguem a um acerto no congresso técnico a ser realizado ainda neste primeiro semestre, visando o Parazão 2015.
[colored_box color=”yellow”]FPF culpa Copa Verde pelo atraso
O prolongamento do Parazão, que em um primeiro momento se encerraria dia 15/05, tem uma explicação. A Federação Paraense de Futebol alega que a realização da Copa Verde foi o detalhe que impediu o respeito total ao calendário. Fernando Castro, diretor técnico da FPF, utilizou o argumento como justificativa. “Não tínhamos a confirmação da Copa Verde e, a partir do momento em que ela entrou no calendário, tivemos que fazer os ajustes necessários”, explicou.
Como o Paysandu foi um dos clubes finalistas da Copa Verde, as datas dos jogos do time bicolor no Campeonato Paraense se arrastaram. Até a última terça-feira, não se sabia quais seriam os dias da final do segundo turno. Foi quando a FPF resolveu se pronunciar e definir os dias 22 e 28/05 para os jogos da final da Taça Estado do Pará, o segundo turno do Parazão, entre Paysandu e Remo.
“No primeiro turno, você viu, foi tudo tranquilo”, argumentou Fernando Castro, afirmando que, na disputa da Taça Cidade de Belém, não ocorreram transferências de jogos por impossibilidade de datas. O Remo também teve jogos adiado no segundo turno, um deles contra o Independente, válido pela segunda rodada da fase classificatória.
Os clubes não podem reclamar tanto. Fernando Castro explicou que o Conselho Técnico, com a presença de todos os clubes participantes, reuniu-se ainda no primeiro semestre de 2013 para definir a fórmula de disputa e datas para o Paraense. “É quando os clubes aprovam o modelo de competição”, frisou. Castro adiantou que, com a possível realização da Copa Verde da temporada 2015, será inevitável repensar o Campeonato Paraense e torná-lo mais enxuto.
“Já estamos estudando uma nova fórmula para a disputa que não tenha cerca de 70 jogos, como é feito hoje. Vamos sentar e escutar os clubes, como é procedimento, mas não posso adiantar como será esta redução”, frisou.
Apesar da fórmula “prolongamento + despesas”, há um aspecto técnico, ressaltando por Fernando Castro. Ele defendeu uma hipótese: um Estadual mais longo poderia servir como justificativa para a formação de elencos mais competitivos. “Se você analisar o que acontece no Brasil, você vai ver que há clubes com dois times, o que pode ajudar na formação de um plantel mais forte. Infelizmente, não é isso que acontece aqui”, disse.
Castro não se atentou para um detalhe: apenas Paysandu e Águia (que não participou do Parazão este ano) tinham a certeza de calendário até o final do ano. Sem a certeza de calendário, é inviável investir pesado no Departamento de Futebol profissional.[/colored_box]
O Liberal, 11/05/2014