Um time paraense eliminar clubes como Vitória (BA) e Flamengo (RJ) em uma competição nacional é algo raro, seja em futebol profissional ou nas categorias de base, mas o Remo conseguiu isso no ano passado com seu time de juniores. Porém, o aproveitamento do grupo que conquistou a Copa Norte Sub-20 e chegou até a terceira fase da Copa do Brasil da categoria, praticamente não aconteceu.
Apesar das promessas de valorização da prata da casa, poucos daqueles garotos conseguiram atuar na equipe principal, sendo que apenas um está entre os atuais titulares: o lateral-esquerdo Alex Ruan.
O planejamento que prioriza a contratação de atletas mais experientes aliado à falta de oportunidade são os motivos apontados pelos próprios garotos para o naufrágio da geração atual da base azulina.
“Houve uma expectativa boa depois da Copa do Brasil Sub-20. Esperava mais chances, mas não aconteceu. Jogador da casa é assim mesmo. Daqui a pouco entro para não sair mais”, resignou-se Igor João, ainda alimentando uma ponta de esperança. “Tinha expectativa depois de tudo que fizemos no ano passado. Infelizmente ainda não aconteceu, mas meu contrato é longo e este processo não acabou”, pontuou Guilherme.
O exemplo acabado desta realidade é justamente o meia-atacante Rodrigo, principal destaque daquele grupo. O jovem armador foi eleito o melhor em sua posição na competição nacional, mas a promessa de aproveitamento no elenco comandado pelo então técnico Charles Guerreiro não se realizou e, depois de constatar a falta de política da atual diretoria para com a prata da casa, o jogador decidiu acionar o clube na Justiça do Trabalho e, na semana passada, obteve sua rescisão contratual.
Não foi só Rodrigo que ficou pelo caminho. O time base da Copa do Brasil Sub-20 tinha: Jader; Andrey, Igor João, Yan e Alex Ruan; Nadson, Raí e Rodrigo; Sílvio, Guilherme e Beto. Ainda faziam parte do elenco jogadores como o volante Tsunami e os atacantes Rony e Jayme, que foi o artilheiro na Copa Norte Sub-20 e se machucou na estreia do Leão no torneio nacional.
Destes, certamente quem obteve maior sucesso foi Alex Ruan, que após iniciar a atual temporada no banco de reservas, acabou ganhando a posição do experiente Rodrigo Fernandes.
Entre os demais, temos jogadores com poucas e rápidas aparições no time principal, como Igor João, Nadson, Guilherme e Rodrigo, outros que acabaram retornando ao elenco júnior. Para completar, no início deste ano, o artilheiro Jayme acabou envolvido como contrapeso na negociação que trouxe o instável Thiago Potiguar para o Leão.
A exceção fica por conta do atacante Rony, que vem ganhando cada vez mais espaço no grupo principal e já briga inclusive por uma vaga no ataque titular da equipe comandada por Roberto Fernandes. Para que isso ocorresse, foi preciso que reforços contratados “a peso de ouro” decepcionassem no Parazão, casos de Zé Soares, Leandrão e Thiago Potiguar.
Não é de hoje que o Remo queima seus jovens talentos. Nos últimos dois anos, a geração que chegou a fazer boas campanhas na Copa São Paulo de Futebol de Juniores foi sendo desmontada peça por peça. Daquele grupo, apenas o volante Jhonnatan permanece até hoje no elenco principal. Mesmo aqueles que receberam alguma oportunidade entre os profissionais acabaram “rifados” na primeira intempérie.
Alguns deles já conseguiram espaço em outros clubes, como o zagueiro Raul, atualmente no Figuerense (SC), o lateral-direito Thiago Cametá, titular do Fortaleza (CE), e o volante Ramon, que está no Nacional (AM). Outros ainda lutam para encontrar um novo caminho, como o meia Betinho e o atacante Reis.
[colored_box color=”yellow”]Falta de planejamento atrapalha formação de atletas
A explicação para o pouco aproveitamento dos jogadores formados nas divisões de base pode estar no planejamento do Remo. O clube sofre constantes alterações no comando da categoria de base, os salários dos funcionários deste departamento invariavelmente são sempre os mais atrasados no clube e a falta de estrutura para a formação é evidente.
Até a semana passada, os times inferiores do Leão Azul não treinavam no Baenão. O clube também não possui um CT para forjar os jovens talentos. Seleção, testes, cuidados com o físico, o técnico e o psicológico, nada disso faz parte da cartilha para escolha dos futuros jogadores remistas. Também não há conexão entre as comissões técnicas dos departamentos amador e profissional. Para se ter uma ideia, somente há pouco tempo Válter Lima, treinador do time sub-20, foi apresentado a Roberto Fernandes, comandante do time principal.
Além disso, o Departamento de Futebol Profissional prefere a contratação de jogadores mais experientes. Exemplos claros disso ocorreram no ano passado, quando jogadores de qualidade duvidosa, mas com experiência em outros clubes foram contratados, como Walber, Rodrigo Guerra, Tony, Thiago Galhardo, Ramon e Fábio Paulista. Este ano, a mesma política foi mantida, com as chegadas de Diogo Silva, Rogélio, Rodrigo Fernandes e Leandrão, entre outros.
“Há momentos e momentos. Algumas vezes a chance aparece, há um momento propício para o lançamento de um jogador mais jovem. Temos exemplos bons. O Jhonnatan teve oportunidade no ano passado, aproveitou e é considerado titular. O mesmo aconteceu este ano com o Alex Ruan, e o Rony é outro que vem ganhando cada vez mais espaço. Porém, só podem jogar 11 e, por isso, é preciso ter paciência”, alegou Thiago Passos, diretor de futebol do Remo.
“Acredito que os garotos estão sendo bem aproveitados dentro do que é possível. O Jhonnatan, o Alex Ruan e o Rony estão praticamente no time titular e outros garotos estão sendo observados pelo (técnico) Roberto Fernandes. É claro que a saída de um garoto promissor como o Rodrigo preocupa, mas é difícil para um clube na situação financeira do Remo segurar jovens talentos quando há tantos empresários oferencendo mundos e fundos para tirá-los daqui”, ponderou.[/colored_box]
Amazônia, 19/05/2014