Em meio à melancolia por mais uma eliminação precoce, ações trabalhistas pipocam, jovens atletas se desvinculam aproveitando-se da incompetência do clube, o horizonte escurece e candidatos fazem promessas de mudanças. O filme do Remo neste fim de temporada, a dois meses de novas eleições, é o mesmo do fechamento de gestões passadas.
No Leão é assim: mudam os dirigentes, repetem-se as lambanças. A gestão de Zeca Pirão, que chegou a causar boas expectativas na missão de desatolar o clube, está se fechando com perdas absurdas de revelações do clube.
Depois de dar Jayme para o Fluminense (RJ), Rodrigo para o Corinthians (SP), Ameixa para o Grêmio (RS) e dispensar Igor João, o clube teve a confirmação de perda de Tsunami, que antecipou a saída, embora o contrato só termine em novembro, mesmo caso de Ameixa. É bom lembrar que Jayme e Tsunami foram artilheiros e considerados os melhores jogadores da Copa Norte Sub-20 de 2013 e 2014, respectivamente.
Aos 18 anos, Tsunami sai pela segunda vez. Diz que vai para o Rio de Janeiro ou São Paulo. Em 2013, ele saiu para o Sport (PE), mas se arrependeu e voltou.
Essas perdas traduzem mais que descaso, mais que incompetência. Isso é estupidez, tal como em gestões passadas, quando o clube perdeu Cicinho (titular do Santos-SP, Tiago Alves (Paraná-PR), Thiago Cametá (Fortaleza-CE), Raul (Figueirense-SC), Anderson Pará (Bahia-BA e Seleção Brasileira Sub-20), além dos atacantes Marcelo e Bruno, que saíram do sub-15 para o Cruzeiro (MG) e Beira Mar (Portugal).
Somando os jovens citados acima com os atletas desvinculados na Justiça do Trabalho, por causa de salários atrasados, como Vélber, Belterra, Rodrigo Sarará, Balão, Da Silva, Andrezinho e outros, o Remo chega a 27 perdas em 16 anos da Lei Pelé.
No mesmo período o clube só faturou R$ 750 mil em venda de jogadores: Rogerinho (R$ 550 mil), Reis (R$ 130 mil) e Heliton (R$ 70 mil), enquanto o rival Paysandu faturou R$ 5,2 milhões em transações de atletas para o exterior (Balão, Robson, Thiago Potiguar e Fabrício) e para o mercado nacional (Velber, Rodrigo Sarará, Giovanni Augusto, Genison e Rafael Oliveira) e prepara a venda de mais um, Pikachu.
A mais indecente das perdas remistas na Justiça foi Thiago Belém, então recém-promovido do sub-20, em 2005. O clube não só perdeu o vínculo por descumprir obrigações trabalhistas como teve que arcar com multa rescisória de R$ 900 mil. A dívida subiu tanto, que apesar do que já foi pago, o valor está em torno de R$ 1,5 milhão.
O resgate dos fatos mostra que o sofrimento dos remistas não é fruto do acaso. Apesar das humilhações o clube segue no mesmo rumo, sem indicativos de mudanças, a não ser no discurso vazio de candidatos.
O Remo fez contrato de 2 anos (até 2015) com Leandro Cearense, Eduardo Ramos, Fabiano, Rafael Andrade e Max, mas perde os melhores frutos da base por contratos curtos e nem sempre honrados. A exceção é Rony, vinculado até 2017.
Como o clube não dá perspectivas, os garotos preferem sair. O zagueiro Yan já tinha ação na Justiça Trabalhista para se desvincular, mas foi convencido a permanecer, mas o goleiro Jader preferiu a Segundinha do Parazão com o Tapajós a ficar no Leão para a Copa do Brasil Sub-20.
Se na vigência da Lei Pelé, o Remo já perdeu o vínculo 27 jogadores por pura incompetência, antes da Lei, em 1995, o clube perdeu uma revelação que anos depois se tornaria destaque mundial. Júlio César era do Sub-17 do Leão quando sumiu de Belém. Brilhou no Real Madrid (Espanha), Milan (Itália), Benfica (Portugal), Bolton (Inglaterra), Tigres (México) e Olympiakos (Grécia), entre outros clubes da Europa e da América Central.
O Remo não ganhou um centavo como clube formador. Júlio César voltou rico para Belém e investiu em uma indústria de futebol com padrão europeu, a Spaceball, na Rodovia Mário Covas, próximo à Avenida Independência.
Coluna de Carlos Ferreira, O Liberal, 09/10/2014