Cacaio
Cacaio

O Remo parece disposto a manter Cacaio no comando da equipe. É a medida mais sensata, além de ser justa e economicamente mais viável. Pertencem ao técnico, em grande parte, os méritos pela excelente e lucrativa temporada do clube, espelhada na conquista do bicampeonato estadual, o vice-campeonato da Copa Verde, além do acesso à Série C e garantia de calendário cheio em 2016.

Sob seu comando, o Remo operou alguns milagres e, em termos financeiros, seu trabalho representou a salvação da lavoura para o clube que, mergulhado em dívidas, corria sérios riscos de falência caso ficasse sem calendário para o próximo ano.

Os críticos de Cacaio observam erros de escalação, escolhas que se mostraram improdutivas e a dificuldade em definir um padrão de comportamento para o time, sujeitando-o a muitos altos e baixos. Em relação a isso, cabem algumas ponderações.

Com habilidade para driblar as confusões extracampo, Cacaio fez até muito mais do que se esperava com um elenco que tem limitações e que foi formado à base de jogadores regionais. O time do primeiro semestre era bem mais qualificado, tendo a importante variação de jogada no ataque com Bismark se aproximando e Rony como atacante de velocidade.

Sem conseguir repor estas duas ausências, o time do segundo semestre foi bem mais previsível e pesado. Cacaio não dispunha de um outro meia-atacante com características que combinassem com as de Eduardo Ramos, jogador mais importante e decisivo da equipe. Isolado no meio-campo, Ramos ficava muito exposto a marcações individuais.

Para fugir a isso, o técnico tentou fazer do camisa 10 uma espécie de ponta de lança, sem sucesso. Sempre que ficou sob vigilância direta dos adversários, Ramos caiu de rendimento e, junto com ele, o time todo, como contra o Botafogo (SP), no Mangueirão.

O jovem Edicleber, testado várias vezes naquela faixa do campo, ainda que rápido e vibrante, mostrou que ainda precisa de maturidade para dividir responsabilidades com Eduardo Ramos. Por outro lado, o experiente Ratinho não rendeu como em outras ocasiões.

Apesar desses problemas, é preciso reconhecer os acertos do treinador, como a opção pelo 3-5-2, que surpreendeu a todos e se revelou coerente e providencial na fase de mata-mata da Série D. Com três zagueiros, o conjunto ficou mais sólido na defesa e com alas liberados para apoiar as ações ofensivas.

Sobre as escolhas, todo treinador tem suas preferências e nem poderia ser diferente. Pode-se questionar algumas dessas opções. Cacaio deu espaço para Welthon em jogos importantes, deixando de lado o rápido Léo Paraíba, mais técnico e imprevisível. Talvez com Paraíba desde o começo, o Remo tivesse melhor desempenho diante do fechadíssimo Botafogo (SP). São reflexões que, no fundo, não levam a nada.

Acima de tudo, é preciso reconhecer que Cacaio foi bem sucedido e garantiu ao Remo a possibilidade de planejar uma temporada por inteiro, com chances de bom faturamento e resultados satisfatórios em campo. Só por isso já é merecedor de um novo contrato.

Coluna de Gerson Nogueira, Diário do Pará, 06/11/2015