Uma das principais bandeiras levantadas pelo presidente Pedro Minowa em seu plano de gestão à frente do Clube do Remo é a valorização das categorias de base. A prova cabal da prioridade, diante da mudança geral nos cargos de diretoria, foi a permanência dos diretores da gestão de Zeca Pirão, da qual o próprio Minowa fez parte e trabalhou ao lado de Paulinho Araújo, Fábio Cebolão, André Bahia e Fernando Silva.
Com a ascendência ao cargo máximo no clube, Minowa fez o convite de permanência aos agora antigos colegas de Departamento e eles aceitaram. A resposta para tanta confiança talvez seja o empenho da turma em revelar talentos e abastecer com peças de qualidade o plantel profissional. Exemplos recentes não faltam.
Apesar disso, muito do que foi feito acabou desfeito por alguns desvios de curso. Jogadores deixaram o Baenão. O caso mais emblemático foi do meia Rodrigo, principal destaque da Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2014, que foi parar no Corinthians (SP) por falta de valorização. Outros, no entanto, fizeram bonito, a exemplo do volante Warian Santos e o atacante Rony, tratado como uma joia nos arraiais azulinos.
Ainda há o que fazer. Da safra mais recente, um atleta em especial aguarda o desfecho de sua situação. Aos 19 anos, o polivalente Wenderson de Freitas Soares, conhecido como Tsunami, zagueiro de origem, mas que também atua como lateral e volante, conseguiu o mesmo destaque dos colegas de time, mas foi um pouco mais além.
Apesar da função defensiva, ele foi o artilheiro da Copa Norte Sub-20, com 4 gols, ajudando o Leão na conquista do bicampeonato. Hoje, sem contrato com o Remo, o jovem atleta aguarda o desfecho da situação para poder definir o seu futuro, ainda incerto, sobretudo em relação ao time que o revelou para o futebol.
[colored_box color=”yellow”]Para seguir no Baenão, zagueiro exige valorização
A velha máxima do futebol romântico, de que o jogador deve vestir a camisa de um clube com amor, hoje em dia não é absoluta prioridade entre os novos talentos. Tsunami é um deles. A pouca idade não é obstáculo para uma personalidade forte e definida. Em suas palavras, o atleta diz que não assinou com o Remo, embora tenha carinho e consideração pelo clube-berço, porque precisa “pensar no melhor”.
Ou seja, apesar de novo, o zagueiro não abre mão de uma boa estrutura de trabalho e o reconhecimento por ele. “Não penso muito no dinheiro. Isso é na frente, mas tenho que ver que ajudo a família, tenho que ver um salário bom. Não posso ir para o Remo por R$ 2 mil. Se um time de fora me oferecer R$ 5 mil, vou para lá. Óbvio! Minha família tem como se manter, mas quero para mim. Não posso depender da minha família. Quero minha casa, meu carro”, revela.
A família, aliás, é o esteio do garoto, mas não necessariamente define o seu futuro. “Minha família é bem tranquila. Apesar disso, sou eu que tomo as minhas decisões. É tudo comigo, mas eles me apoiam ou opinam quando algumas ideias e propostas não são boas. A minha família me dá apoio necessário para as minhas escolhas, mas quem decide a minha vida sou eu”, garante o jogador.
A firmeza com as palavras reflete diretamente nas suas pretensões e no que pensa sobre um provável destino no Remo. “Tenho que encarar isso com profissionalismo. Não tenho mais esse negócio de amor ao clube. Amo o Remo. Foi o clube que me lançou, me ajudou, mas tenho que ver o melhor para mim. O Remo está assim, aí vem um time de Série A, não tenho como recusar. Não é toda vez que vem um time de fora para nos chamar”, compara Tsunami.[/colored_box]
“Estou pronto para jogar no profissional”.
Os números apresentados na última temporada fazem de Tsunami uma das principais promessas do futebol paraense. Só em 2014, foram 14 gols marcados, sendo quatro deles no principal torneio de base da região Norte. Soma-se a esse fato o simples argumento de se tratar de um zagueiro, cuja função é muito mais evitar os gols do adversário do que balançar as redes.
Diante do retrospecto favorável, é inegável que o sonho de ser ídolo não tenha seu tempo de espera encurtado, tal como o status de joia conquistado. “Pensei que ia ser profissional com 20 anos, mas veio tudo muito rápido, então me prepararei para esses momentos. Fui profissional com 17 e ser um ídolo me deixaria orgulhoso demais. Mostrar que poderia ser ídolo, isso para mim é sensacional. Estou correndo atrás desse sonho todos os dias”, diz ele, com um argumento sólido.
“Estou pronto e já mostrei. Para um zagueiro, ser artilheiro em uma Copa Norte, isso não tem lógica. Já mostrei que consigo jogar no meio dos ‘grandes’. Outra coisa: pode vir qualquer cara de fora que não me intimido. Tenho meu valor e sei muito bem dele. Não baixo minha cabeça para ninguém”, vocifera. Com tantos predicados, Tsunami, de acordo com suas próprias convicções, só não fica no Remo se a diretoria não o valorizar.
[colored_box color=”yellow”]Clubes da Série A estariam interessados
A relação do atleta com a atual diretoria, segundo ele, é bem amistosa, mas a demora para um acerto tem causa bem definida. Tsunami afirma que o seu empresário trouxe propostas de 5 clubes, todos de Série A. É esse o motivo que sacode a cabeça do atleta, que apesar de ser bem decidido, ainda caminha longa e tortuosa estrada do futebol, nem sempre favorável aos viajantes de primeira viagem.
“Recebo algumas propostas. Já conversei com o Minowa. Estou vendo. Não tem nada definido. Vou esperar até o último momento para decidir o que será para o Remo, para mim, minha família, as condições de trabalho em outros clubes, as condições no Remo. Tudo isso conta”, diz.
Aliás, condição de trabalho, é o que o garoto mais deseja. “Estou fazendo uma escolha bem criteriosa. Tenho que trabalhar em uma boa condição. Se tivéssemos em um campo bom, em um CT, o Remo teria mais gente do Sub-20 no profissional. Às vezes nos destacamos pela força de vontade, mas tem que ter outras condições coisas para o atleta”, afirma.
Outra boa expectativa é quanto ao novo técnico. As informações repassadas até agora sobre Zé Teodoro são animadoras. Em resumo, os predicados são grandes, o interesse dos lados existe, mas como tudo no futebol paraense é uma grande caixinha de surpresas, é preciso rogar aos Deuses do futebol para que mais um grande talento não seja lançado ao vento, deixando, mais uma vez, os times locais a ver navios. “Pelo que me falaram, ele é um cara que aproveita a base, mas como não o conheço, vou esperar e ver o que será do meu futuro, seja ou não no Remo”, finalizou Tsunami.[/colored_box]
Diário do Pará, 04/01/2015