Como já era mais ou menos esperado, o Remo teve barradas suas pretensões de retornar à Série C pela via judicial. O recurso apresentado, juntamente com o América (RN), denunciando irregularidade no contrato do volante Sapé com o Botafogo (PB), não foi aceito pela procuradoria do STJD, que decidiu arquivá-lo.
O fracasso da ação remista era previsível, pois a mesma Procuradoria, em recente decisão, arquivou denúncia do Tombense (MG) contra o Juventude (RS), em situação parecida com a que envolvia o atleta do Botafogo (PB). Além disso, o pedido azulino para que o campeonato fosse paralisado não foi acatado.
Outra sinalização foi a declaração – nunca desmentida – do advogado do clube paraibano, revelando que, em conversa na CBF, o presidente Marco Polo Del Nero havia garantido que o Botafogo (PB) não corria risco de punição. Aliás, a própria entidade deixou claro que considerava a situação do jogador absolutamente regular.
Diante disso, pode-se concluir que a luta travada por azulinos e americanos era inglória desde a origem. Indiferente à reivindicação dos clubes, a CBF manteve os jogos já programados, tornando quase impraticável uma reversão na classificação dos times.
O fato é que, no âmbito do futebol, a simples ida ao tapetão já configura desespero de causa. Eliminado em campo, o Remo tentou salvar a temporada apontando um problema que foi denunciado inicialmente pelo ASA (AL) e acabou virando argumento de apelação para América (RN) e o próprio Leão Azul.
Em 2 jogos realizados dentro de casa, contra Salgueiro (PE) e o próprio América (RN), o Remo podia ter garantido sua classificação sem maiores atropelos. Bastava vencer uma das partidas, mas o time foi incapaz de transformar a pressão intensa em gols. Teve chances claras para isso. No confronto final, Edno e Eduardo Ramos perderam gols incríveis, diante do goleiro.
A vertiginosa queda de rendimento técnico explica as agruras azulinas. Sob o comando de Waldemar Lemos, o desempenho chegou a gerar expectativas de acesso. Aos poucos, porém, as atuações individuais foram decaindo, deixando nítida a fragilidade coletiva. As escolhas equivocadas, como Fernandinho e Michel Schmöller, tornaram o conjunto ainda mais fraco e previsível.
É preciso considerar ainda o cenário interno do clube, com salários em atraso e permanentes queixas por parte dos atletas e comissão técnica. Poucos times conseguem render bem quando estão com as contas em dia. No caso azulino, o elenco se mostrou desanimado desde o começo da segunda metade da fase classificatória. Outros clubes, como o Guarani (SP), atravessam situação semelhante, mas conseguiram ir em frente.
Os enroscos financeiros e contábeis do Remo se acumulam há várias gestões, desde que o clube conquistou a Série C, em 2005. Desde então, nenhuma administração conseguiu resolver a equação entre receita e despesa, tornando o clube ingovernável e à beira da falência.
Para agravar ainda mais o quadro, sem poder contar com o estádio Evandro Almeida ao longo da temporada, sucateado na gestão anterior, acarretou prejuízos substanciais nas bilheterias e também no aspecto técnico, pois alguns jogos da própria Série C poderiam ter sido realizados no caldeirão remista.
Resta a conselheiros e dirigentes, a partir de agora, concentrar esforços na eleição marcada para novembro. É uma excelente oportunidade para a pacificação interna e para uma reflexão séria quanto ao futuro, pois as dívidas inviabilizam as administrações, refletindo diretamente sobre o futebol, mola propulsora do clube. Já é tempo de acertar o passo!
Blog do Gerson Nogueira, 07/10/2016