O empresário Alexandre Leite de Aviz cuidava da sua esmalteria em Icoaraci, distrito de Belém, quando recebeu a proposta de um amigo: voltar a jogar futebol profissional. O pedido aconteceu durante a disputa da tradicional pelada de final de semana e, de início, causou surpresa. “Você tem certeza?”, perguntou.
Quando recebeu a confirmação de Júnior Amorim, Alexandre Aviz aceitou o convite, abandonou a aposentadoria e voltou a ser o Magrão, zagueiro campeão da Série C do Brasileirão pelo Remo, em 2005. Sem atuar profissionalmente desde 2013, o agora novamente jogador não demorou para voltar à forma física ideal, ganhar a braçadeira de capitão aos 40 anos e ser um dos pilares do Pinheirense, campeão da Segundinha.
“Júnior Amorim tinha o projeto de ser treinador e uma vez havia me dito que queria contar comigo no grupo dele, mas era uma coisa da boca para fora, até que o projeto se concretizou com o Pinheirense. Estou com 40 anos, perguntei se ele tinha certeza absoluta disso e aceitei a ideia de ser o capitão da equipe. Foi só conciliar os treinos com os meus afazeres, pois não queria voltar a jogar profissionalmente e passar vergonha em campo. No começo foi difícil. Não jogava há 3 anos. A última vez foi pelo Izabelense, em 2013, mas uns 15 dias depois recuperei a parte física e a coisa deu certo”, contou.
Apesar de ter a confiança de Júnior Amorim, treinador do Pinheirense, Magrão sabia que teria que superar desafios na volta aos gramados. A idade, considerada ultrapassada para o futebol, era um fator que causava desconfiança. Ele teve que superar preconceitos e recuperar o respeito diante dos companheiros de equipes mais novos.
“Quando o Júnior me convidou, sabia que essa aceitação seria difícil. Para muita gente eu estava velho e meus próprios amigos diziam para não voltar a jogar. Eu disse que iria, conhecia o meu corpo, não bebo, não fumo, não perco uma noite de sono. Não almejo mais nada no futebol, voltei para ajudar o Júnior, ele pediu uma ajuda. Não tenho pretensão de voltar ao Remo, por exemplo, onde tenho uma história, ou qualquer outro clube grande. Sei da minha idade, da realidade. O Remo é um time de massa. Está bom desse jeito, não quero mais me aborrecer com o futebol, ficar escutando coisas. O Pinheirense tem torcida, mas não é do mesmo jeito que a de Remo e Paysandu”, disse.
Magrão fez a carreira jogando em clubes do Pará: Tuna Luso, Águia de Marabá, Castanhal, Izabelense e, agora, Pinheirense. Foram poucas as “aventuras” longe da família, apenas passagens por Luverdense (MT), São Bento (SP) e Macapá (AP). Porém, foi no Remo que viveu as grandes fases da carreira e guarda as melhores lembranças. Atuou pelo Leão pela primeira vez em 2002, retornou em 2005 para a conquista da Série C e ficou até setembro de 2007.
O atleta afirmou que deve continuar no Pinheirense para a disputa do Campeonato Paraense de 2017 e, assim, terá que enfrentar o seu ex-clube. Magrão, inclusive, se revela um torcedor azulino. Observando de longe os bastidores da equipe, ele avalia que a nova diretoria está no caminho certo ao procurar formar uma base regional para as competições do ano que vem.
O zagueiro acredita que investir nas categorias de base é o caminho ideal para que o Remo volte ao cenário de conquistas no futebol e cobrou os dirigentes azulinos por mais valorização aos ídolos do passado.
“O Remo está no caminho certo. Tem o nosso clima, o jogador paraense está acostumado a jogar debaixo de chuva. Não sou contra ninguém de fora, tem que mesclar com 2, 3, 4 jogadores de fora, mas também é preciso levar a base a sério. É a base que ajuda o clube, tem que olhar mais para os garotos, fazer uma coisa profissional, realmente valorizar a prata da casa. Aqui tem bons jogadores. Jayme, por exemplo, tem muito potencial. Até digo que se ele levar a coisa a sério, vai ficar rico”, completou Magrão.
“Desde quando saí (do Remo), me desliguei totalmente. Às vezes me convidam para participar dessas campanhas com o torcedor, mas não gosto de me envolver. Entra e sai diretoria e ninguém liga para a gente. Esse é o meu sentimento e acredito que daqueles que jogaram a Série C e foram campeões. Nem convidam, pelo menos, para assistir um jogo como convidado do clube. Esqueceram da gente. No Paysandu você vê, todos os anos, o evento para os atletas que foram campeões. Só quem não esquece é a torcida e essa sim, tem muito carinho por todos nós que participamos da história do Remo”, concluiu.
Globo Esporte.com, 14/12/2016