Zé Renato, Manoel Ribeiro, Ney da Matta e Milton Campos
Zé Renato, Manoel Ribeiro, Ney da Matta e Milton Campos

Ney da Matta chegou falando grosso, praticamente detalhando uma espécie de cartilha invisível que irá utilizar no comando do futebol remista a partir de agora. Apesar de não ser tão veterano, acumula certa rodagem e algumas experiências significativas na carreira. Pode ser que venha a fazer como outros técnicos de fora que alcançaram êxito no clube, como Roberval Davino, Giba ou até mesmo Waldemar Carabina.

Por outro lado, pode se juntar à numerosa galeria dos que sucumbiram às dificuldades naturais de comandar um clube de massa, em permanente ebulição, como o Remo. Nessa lista, só de nomes bem recentes, é possível citar Oliveira Canindé, Josué Teixeira, Waldemar Lemos, Marcelo Veiga, Zé Teodoro, Roberto Fernandes e Leston Júnior, dentre outros.

No fundo, o próprio Ney da Matta vai definir, a partir do trabalho que produzir no Remo, a que grupo se associar. A impressão inicial foi positiva, mas esta é também uma percepção traiçoeira. Todos os que chegam trazem um discurso de austeridade no bolso que parece ter sido repassado nas últimas aulas do curso de técnico profissional.

O primeiro item do receituário é o incentivo ao talento nativo. Juram dar atenção às divisões de base e aos atletas do futebol regional. Quase todos lembram a experiência com jovens, ressaltando a importância disso para o clube. Na primeira oportunidade, acabam esquecendo o rosário de promessas e trazem a costumeira barcada de jogadores catados em praças menos respeitadas do que Belém.

Nos últimos anos, os técnicos que desembarcaram aqui foram buscar atletas revelados em lugares ermos do interior gaúcho ou das várzeas paulistas. Não por coincidência, nenhum emplacou, nenhum deixou saudades.

No receituário do novo técnico azulino, há também espaço para o rigor no aspecto disciplinar. Coincidência ou não, chegou um dia depois de anunciada a saída de Eduardo Ramos, eterno candidato a ídolo da galera e conhecido pela presença constante – e às claras, diga-se – na noite de Belém – e Salinas, quando é tempo de sol e mar.

Ney da Matta, ao lado do executivo de futebol Zé Renato e do diretor Milton Campos, além do presidente Manoel Ribeiro, foi claro e direto. Só trabalha com boleiros que não representam encrenca fora de campo.

Ao afirmar isso, ele excluiu de cara uns 40% dos possíveis candidatos a reforços, pois os melhores também são os mais problemáticos. Sina de boleiro, difícil de explicar ou consubstanciar em termos sociológicos, mas fácil de entender quando se observa o histórico e a origem dos grandes jogadores.

De todo modo, o novo treinador tem a chance de mudar a imagem dos técnicos forasteiros trazidos pelo Remo nos últimos 5 anos. Pode ser o primeiro a ganhar algum título e a convencer o torcedor de que pode ir além das boas intenções e da fala ensaiada.

Por parte da diretoria, seria oportuno e digno informar ao recém-chegado sobre as reais condições em que o Remo se encontra. É preferível que ele comece a trabalhar já sabendo das muitas carências do clube a ter que descobrir a dura realidade no dia-a-dia.

Blog do Gerson Nogueira, 09/11/2017