Parque do Bacurau, em Cametá
Parque do Bacurau, em Cametá

As críticas ao estado do gramado de alguns estádios do interior motivam, às vezes, comentários do tipo: “antigamente os campos eram piores e jogava-se do mesmo jeito” ou “desculpa dos grandes da capital para não viajar ao interior”. Como se o problema fosse simples “frescura” ou má-vontade para com os times emergentes.

Óbvio que argumentos tão simplistas só perpetuam um problema que não deveria mais existir e servem de atenuante para a negligência dos clubes e da Federação. Na verdade, a discussão deve ser outra: por que os clubes disputantes do Campeonato Estadual não cuidam melhor de seus estádios?

A participação dos clubes no Parazão, com direito a patrocínio governamental, pressupõe a existência de estrutura mínima para realizar jogos como mandante. Apesar disso, somente 3 estádios preenchem os requisitos necessários para sediar partidas do campeonato: Mangueirão e Curuzu, emBelém; e o Colosso do Tapajós, em Santarém.

Os outros estádios foram tecnicamente liberados, mas expõem a condescendência da comissão de vistoria e fiscalização, que liberou gramados que não permitem uma simples troca de passes e que criam dificuldades imensas para chute e domínio da bola.

Eventuais coincidências de natureza política, como a eleição que se aproxima na Federação Paraense de Futebol, não deveriam desembocar no afrouxamento de critérios de avaliação.

Os jogos realizados nos estádios de Cametá, Tucuruí, Paragominas, Marabá e Castanhal oferecem risco permanente de lesões graves para os atletas. Ao mesmo tempo, o público que paga para ver jogos é obrigado a acompanhar autênticas “peladas”, como as partidas entre Castanhal e Paysandu, na quinta-feira (23/02); e entre Cametá e Remo, no dia seguinte.

Nos dois confrontos, não faltou esforço por parte dos jogadores, mas os campos não ajudaram. Quando não era a lama que tornava o jogo mais lento, eram os buracos se encarregavam de interferir, desviando o curso da bola. Até os times da casa encontraram dificuldades em jogar nos gramados castigados.

Contra o time bicolor, o Castanhal abusou dos cruzamentos para escapar de erros certos nos passes rasteiros. No outro jogo, o Cametá optou pelo mesmo expediente diante do Remo. Ambos foram derrotados pela dupla da capital, mas quem saiu perdendo de verdade foi o bom futebol.

A desculpa de que a chuva é a única culpada pelo agravamento das condições não pode ser levada a sério, pois todos conhecem os rigores do inverno amazônico.

Por isso, o jeito mais prático corrigir o problema é aplicar as normas preconizadas pela Fifa: clubes mandantes devem ter estádios aptos a sediar jogos, sob pena de transferência de local ou de perda do mando.

Blog do Gerson Nogueira, 26/02/2017