Carlos Alberto supera doença e está liberado para voltar a jogar futebol

Nesta quinta-feira (23/01), o Clube do Remo anunciou mais um reforço para a temporada: o meia Carlos Alberto, de 24 anos.

Ele mesmo! Depois de mais de 6 meses afastado do futebol em razão de uma rara doença no sangue, o jogador teve sua volta aos gramados confirmada pela equipe médica do Leão. A expectativa é o atleta que adquira condições de jogo em cerca de 30 dias.

A entrevista coletiva foi realizada no Hospital Porto Dias, onde parte principal do tratamento foi realizada. A emoção tomou conta de Carlos Alberto.

“Sou muito emocional. Estou me aguentando aqui para não chorar, porque é difícil. Quando fui internado, procurei nem pegar no celular. A gente não sabe, né. Tem gente que tem maldade, você falou que anunciaram até a minha morte. Agora estou aqui, estou bem, feliz, sorridente. Estou feliz e motivado”, revelou.

“Não tenho nem palavras, pensei bastante antes de vir. É difícil, foram momentos marcantes, mas espero estar logo ajudando o Remo e podendo dar alegria para essa torcida”, comentou o meia.

Contratado pelo Remo em abril de 2019, Carlos Alberto rapidamente conquistou a titularidade durante a Série C do Brasileirão. Porém, no último mês de julho, o jogador sentiu um mal-estar durante um treinamento e foi afastado para realizar exames.

À primeira vista, o quadro era de anemia, mas uma análise mais profunda diagnosticou uma insuficiência medular aguda (aplasia), ou seja, a redução do funcionamento da medula óssea, que é responsável pela produção de células sanguíneas.

A continuidade da carreira como jogador de futebol foi colocada em xeque. Carlos Alberto recebeu várias transfusões e contou com o apoio de uma campanha que envolveu clubes de outros Estados, jogadores, ex-jogadores e torcedores de Remo e Paysandu por doações de sangue.

“Como vocês todos lembram, no mês de julho, a partir de uma queixa vaga do Carlos Alberto, fizemos em poucos dias o diagnóstico de uma anemia aplásica, que é realmente considerada uma doença grave, rara. A partir daí, foi iniciado o tratamento, que foi todo conduzido pelo Dr. Thiago Xavier, coordenador da Hematologia aqui do Hospital Porto Dias”, explicou Jean Klay, chefe do Departamento Médico do Remo.

“O tratamento foi praticamente todo medicamentoso. Foram feitas as medicações e um controle inicialmente semanal e depois quinzenal dos exames, para ver se a medula do Carlos Alberto reagia ou não”, detalhou Jean Klay.

O tratamento foi longo e demorou para apresentar os resultados esperados pela junta médica formada para cuidar o atleta. Até dezembro, as chances dele retomar a carreira eram consideradas muito baixas.

“Confesso a vocês que, em um certo momento, ficamos muito preocupados, porque após 4 meses de tratamento, o Carlos Alberto tinha condições de levar uma vida normal, mas não uma vida de atleta. Em uma das conversas que tive com o Thiago (Xavier), ele me disse: ‘Se o Carlos Alberto não reagir até fevereiro, pode ser que a gente parta para o transplante’. Transplante é um procedimento bem complexo, que a gente queria muito que não houvesse necessidade. Felizmente, a partir de dezembro, os exames do Carlos Alberto começaram a melhorar”, explicou Klay.

Também participou da entrevista coletiva o fisiologista do Remo, Eric Cavalcante. O profissional está responsável por recolocar Carlos Alberto em condições físicas de jogo, ou seja, voltar a ser um atleta de fato. O processo será similar ao retorno de uma lesão comum.

“Um atleta, quando tem uma lesão, faz a transição na fisiologia, na fisioterapia. No caso do Carlos Alberto, ele passou agora para fazer a transição lá na fisiologia, porque a gente pode aplicar a carga com controle. Fizemos isso durante 9 dias e temos alguns parâmetros para que possamos liberar o atleta para o grupo”, argumentou.

“Ele já está fazendo carga, já está trabalhando exercício físico, não está muito distante (do restante do time). É um atleta muito dedicado, tem treinado em 2 períodos”, afirmou Cavalcante.

Os parâmetros serão físicos e fisiológicos. Assim que ele conseguir cumprir as 3 etapas do processo, será liberado para integrar novamente o elenco do Leão. A estimativa atual é de que isso dure aproximadamente 30 dias.

“O (primeiro) parâmetro é o antropométrico, que tem a ver com peso, altura e percentual de gordura. Isso é normal a gente observar, até porque nossa equipe toda tem uma média de percentual para estar lá. Tem o parâmetro de verificação metabólica, que é bem hematológica, pela presença de um item chamado iolactato; e de VO², que é o volume de oxigênio. Ele tem essas 3 metas a cumprir conosco. Quando cumprir, vai estar amplamente reintegrado ao grupo”, apontou.

Após o cumprimento desses requisitos, Carlos Alberto será entregue à comissão técnica, que é quem definirá uma data de retorno do jogador aos gramados.

“O prazo é atingir a meta mas, óbvio, a gente tem um prazo cronológico, que é algo em torno de 30 dias, que é um prazo habitável para que ele possa atingir essas condições. Para ele voltar a jogar futebol, lembre que ele vai ter que voltar a treinar com o grupo. Questões técnicas, questões táticas e físicas do grupo são outras coisas”, concluiu o fisiologista.

Depois de mais de 6 meses sem poder praticar nenhum exercício físico, Carlos Alberto demonstra ter consciência de que precisa esperar um pouco mais para jogar, mas sua vontade mesmo era já entrar em campo contra o Carajás, pela 2ª rodada do Parazão.

“Minha vontade é jogar já domingo (26/01), mas toda a semana vou estar treinando, vou dar o feedback para eles e, se alcançar o pico de trabalhos físicos que eles querem, acredito que no próximo mês já esteja treinando com o grupo. Para a estreia, vai depender do professor (Rafael Jaques)”, salientou o meia.

“No trabalho, ainda fico um pouco cansado. Fiquei 6 meses sem nem poder correr, só comendo e dormindo. Minha vida mudou em 6 meses e agora que estou retomando a rotina. Acredito que vou sentir agora no começo, mas tem toda uma equipe, uma estrutura por trás para poder voltar da melhor maneira possível”, finalizou Carlos Alberto.

Globo Esporte.com, 23/01/2020