Mazola chega ao Remo, vira sócio e promete “sucesso muito maior do que do outro lado da avenida”

Mazola Júnior começou seu trabalho no Remo nesta terça-feira (25/02). Pela manhã, comandou pela primeira vez o treino do time principal e, em seguida, concedeu entrevista coletiva.

A conversa com a imprensa durou mais de 30 minutos e o técnico abordou diversas questões, desde possíveis contratações até a uma antiga rivalidade com o torcedor azulino, em razão da sua passagem pelo Paysandu, em 2014.

Neste ponto, aliás, o clube até fez uma brincadeira. Devido a uma imagem de Mazola Júnior como garoto propaganda do programa de sócio-torcedor do rival, o atual treinador do Leão agora é parte integrante do Nação Azul, com direito a mostrar até a carteirinha.

“Está aqui. Não sou um torcedor do Paysandu. Trabalhei no Paysandu e, no meu contrato de imagem, tinha uma cláusula que teria que participar de todas as ações de marketing do clube e foi isso que fiz”, afirmou.

“Para quem não sabe, é declarado isso, talvez não tivesse que falar, mas como sou um cara muito autêntico, muito frontal, dizem que treinador não pode falar o clube que torce. Falei e falo, sem vergonha nenhuma. No final de 2018, falei o clube que torço (Ponte Preta-SP). Sou extremamente profissional. Hoje, sou sócio-torcedor do Remo e vou fazer tudo que estiver ao meu alcance para que o Remo saia vencedor e alcance todos os seus objetivos nesse ano”, completou Mazola.

O treinador contou que acertar com o Remo era algo que ele mesmo almejava antes mesmo de ser procurado pela atual diretoria azulina.

“Já era uma intenção, sem hipocrisia nenhuma, do Fábio e da diretoria do Remo. Desde o ano passado, a conversa começou a ficar um pouco mais estreita. Tinha uma vontade imensa de voltar a Belém. Ao contrário do que algumas pessoas andaram falando, gosto muito de Belém, gosto muito do povo paraense e, da culinária então, nem se fala. Tinha muita vontade de voltar aqui. Depois de 2014, só voltei aqui como adversário. Me dei muito bem aqui e consegui, em um ano que trabalhei aqui, fazer grandes amigos, que até hoje mantenho contato quase que semanalmente”, explicou.

Natural de Campinas (SP), Mazola Júnior tem 54 anos e chega ao Leão após um curto período sabático. Foram dois trabalhos em 2019, em Ponte Preta (SP) e Londrina (PR), que o próprio técnico avaliou como ruins. Demitido em novembro do time paranaense, Mazola optou por passar alguns meses avaliando a carreira.

“Devido a tudo que aconteceu no ano passado, que profissionalmente foi um ano muito ruim para mim, tive um problema seríssimo familiar. Não sei se vocês sabem, mas meu pai faleceu há 2 anos e minha mãe está com um problema sério, internada em uma clínica de terapia. Enfim, foi um ano profissionalmente muito ruim. No final do ano, tive uma escolha ruim, em um clube maravilhoso, um presidente espetacular, mas não foi uma escolha muito boa. Resolvi dar um tempo, raciocinar e não começar o ano trabalhando. Procurei fazer um recálculo da minha situação profissional, no mercado, e um dos mercados que visualizei foi o Remo. Acho que deveria voltar aqui para mudar um pouco a minha imagem e reabrir essa porta dessa casa maravilhosa e foi isso que fiz”, contou.

“A partir do momento que houve a demissão do (Rafael) Jaques, me interessei em vir para o Remo, entrou-se em conversações, houve interesse do clube e cá estou, para reconstruir minha história no Pará, em Belém e, principalmente, para reabrir a porta do profissional em um clube gigantesco que é Remo”, disse.

Mazola ainda explicou que pretende ajudar o clube em questões que vão além do campo.

“É um momento de transição, modernização e reestruturação que o clube está passando e acho que, por todas as experiências passadas que tive em Sport (PE), Ponte Preta (SP), CRB (AL), Vila Nova (GO), já estou habituado a essas grandes bandeiras em momento de recuperação, de modernização, de futuro. Vi, nesta situação, uma grande oportunidade de vir mostrar meu serviço aqui. Estou cheio de gana e quero mostrar, com esse trabalho e o dia-a-dia, que aquilo que aconteceu em 2014 foi porque sou um cara extremamente profissional, quero ganhar, sou um cara vencedor e, no pavilhão que defender, vou meter meu vigor todo. Tudo aquilo que aconteceu foram contra pessoas, não contra a instituição. Em nenhum momento ofendi a instituição. Então, peço um voto de credibilidade para a torcida do Remo”, salientou.

Ao longo da entrevista, Mazola Júnior pediu 2 semanas para avaliar o grupo e poder apontar possíveis mudanças, revelou que terá uma conversa “de mano” com Eduardo Ramos e que o time pode ser “ele e mais 10”, além de ressaltar que sempre foi muito respeitado por torcedores do Remo, mesmo quando esteve no Paysandu.

Sua estreia como técnico azulino será neste domingo (01/03), às 10h, no Baenão, contra o Carajás, pela 6ª rodada do Parazão.

Confira outros trechos da entrevista coletiva:

Problemas e virtudes do time

Acho que seria uma prepotência muito grande minha chegar aqui e já indicar tudo o que está acontecendo de certo e de errado. Tenho experiência, sou treinador há 17 anos já. Vamos ter um pouco de dificuldade no começo para detectar esses problemas, porque estou afastado da Série C há muitos anos, desde 2014. Tem muitos jogadores desse campeonato que não conheço e vários estão aqui no Remo. Só o dia-a-dia, o campo, vai fazer com que faça uma análise mais detalhada. Alguns que conheço de jogar contra ou que trabalharam comigo, vamos fazer uma análise do momento atual que estão vivendo. Lógico que é muito cedo, mas já conversei com o presidente e com o (executivo Carlos) Kila. O presidente me falou assim: “Mazola, se você detectar que existe a necessidade realmente, a gente tem condições de ir buscar mais 1, 2 ou até 3 peças ainda para o Estadual”. Vou ter essa primeira semana, 4 ou 5 treinos, e depois a outra semana cheia. Aí pretendo, sim, ter uma diretriz do que deu errado, do que está precisando, do que faltou. Uma coisa garanto: não só o (ex-técnico Rafael) Jaques errou, porque, na nossa cultura, a primeira corda que estoura é sempre no treinador, porque é a parte mais fraca do processo, mas pode ter certeza que quando acontece essas coisas, a culpa não é só do treinador. Vamos analisar. Peço apenas um pouco de paciência.

Relação com a torcida do Remo

Não sou hipócrita e nem cínico. Todo aquele ano lá e depois de 2014, sou um cara que vou na rua, tenho minha vida normal. Faço as minhas caminhadas, vou na Doca, nos melhores restaurantes de Belém, vou no shopping, não fico dentro de casa. Nunca fui ofendido por um torcedor remista na rua, nem eu e nem minha família. Nunca! Nunca fui ofendido por ninguém. Então, todo esse barulho que houve foi por causa da rivalidade. O torcedor do Remo sabe o profissional que sou, o caráter que tenho, a seriedade e o profissionalismo que tenho. Minha carreira está aí, não deixa mentir. Em todos os clubes que passei, as portas estão abertas. O torcedor não é burro, sabe que estava dando a vida pelo clube que me paga. Dou a vida para o clube que me paga. Se precisar sair na porrada, saímos na porrada! O meu time tem que ganhar. Naquela época, teve 10 Re-Pa em 5 meses, tudo decisão. Decisão de turno, de segundo turno, decisão do Campeonato Paraense, e (Remo e Paysandu) tinham grandes equipes naquele ano. Semifinal da primeira edição da Copa Verde. Acho que a menor renda que teve, tinham 30 mil pessoas no Mangueirão. Teve a final do segundo turno, que foi uma batalha campal, trocamos até socos. Em momento algum, senti essa desconfiança do profissional. Tenho certeza que, se alguma coisa ficou, vai ser exterminada esse ano.

Promessa de sucesso

Estou muito contente e muito satisfeito. Sei do sacrifício que foi feito por esse que aqui está (Fábio Bentes) e o Remo também sabe. O presidente sabe o que falei para ele. Não vim para cá para passar vergonha. Tenho certeza que vamos ter um sucesso muito maior até do que tivemos do outro lado da avenida.

Confronto contra o Carajás

O treinador é meu ex-capitão (Vanderson). Será um prazer enorme (enfrentá-lo), um grande profissional, grande caráter. Me ajudou imensamente, nem tanto dentro de campo, mas fora de campo, no dia-a-dia. Estava em final de carreira, mas fui um dos incentivadores de que ele assumisse um cargo técnico no clube. Tenho certeza que será um jogo extremamente difícil. O presidente (Luis Omar Pinheiro), não tive muito contato com ele, mas é sempre bom ter essas figuras assim, faz parte da cultura do nosso futebol.

Estrutura do Baenão

Queria dar os parabéns! Vim treinar aqui com o Criciúma (SC), em 2018. O Baenão, realmente, parece um outro estádio agora. Dar os parabéns para a diretoria. Um projeto muito parecido com o que tinha lá em 2014.

Parazão

Vinha acompanhando pouco, a boa campanha do Castanhal, com o Artur; o bom trabalho do Rogério, no Paragominas; a mudança que houve agora com o Vanderson (trocando o Independente pelo Carajás).

Relação com Eduardo Ramos

Eduardo já me deu trabalho várias vezes, não só aqui, em Recife (PE) também, no Náutico (PE), no Sport (PE), no Corinthians (SP). Gosto muito do jogador Eduardo Ramos. Até quando fui para o Vila Nova (GO), ele esteve muito próximo de ir para o Vila. Gosto muito, acho que ele se encaixa em qualquer esquema que estou habituado a usar. Temos poucos jogadores no clube com essa qualidade, a Série C tem pouquíssimos jogadores com essa qualidade. O último acesso dele foi no Cuiabá (MT), não foi? Já falei com ele hoje (terça-feira) aqui, vou ter uma conversa com o Eduardo, de “mano”, dependendo do que acontecer nessa conversa, se ele estiver bem, depois que tiver sido treinado por mim, é ele e mais 10.

Trabalho com as categorias de base

Com relação ao trabalho de base, confesso que preciso me inteirar mais do que é feito aqui no Remo. Quando se fala em base, lançar garotos ao profissional em um clube da pressão gigante como é aqui e da necessidade que temos, tem que ter muita calma na avaliação.

Contratações

Para mim, não existe “jogador de confiança”. Existem jogadores que se adaptam ao meu tipo de trabalho, à minha maneira de ser e à minha forma de jogar. Jogadores que tiveram comigo em 2 ou 3 clubes por causa disso. Tem que ser uma situação para o clube. Trabalho para o clube, não trabalhei para jogador nenhum, nem para empresário nenhum e nem para fundo de investimento nenhum. O que for interessante para o Clube do Remo, vai ser interessante para mim.

Globo Esporte.com, 25/02/2020