Remo 0×0 América-RN (Ricardo Catalá e Lucas Marques) – Foto: Igor Mota (O Liberal)
Remo 0×0 América-RN (Ricardo Catalá e Lucas Marques) – Foto: Igor Mota (O Liberal)

O Remo vive uma sequência de 7 partidas sem perder, deixou a lanterna e a zona de rebaixamento da Série C, mas ainda não conseguiu engrenar na competição. Porém, a equipe conseguiu todos os pontos até o momento ao comando de Ricardo Catalá, técnico que tem como formação a Psicologia Esportiva e é pós-graduado em Gestão do Esporte.

O treinador do Leão falou sobre a psicologia no futebol, como vem trabalhando o elenco azulino e como foi receber os jogadores em um momento tão delicado, com perda do título paraense e na lanterna da Série C.

A equipe azulina ocupa a 13ª posição com 13 pontos, em 11 rodadas na Série C, mas não conseguiu encostar no tão sonhado G8 e ainda está próxima da zona de rebaixamento.

Catalá explicou como desenvolve o trabalho com os atletas, citou a pressão dentro e fora de campo e opinou ser inaceitável como torcedores tratam atletas fora de campo, temendo que isso possa desencadear uma onda ainda maior no futebol brasileiro.

Você tem uma formação em Psicologia. Qual a importância desse trabalho no elenco do Remo desde a sua chegada?

O trabalho de psicologia não é uma exclusividade do futebol. Penso que, assim como o futebol, as empresas são conduzidas por pessoas. Independente da área de atuação, elas têm seus sentimentos, medos, angustias e individualidades. Procurar entender o que cada um tem como característica, visão do mundo, da vida, faz com que você tenha mais empatia, se colocar mais no lugar do outro, procurar oferecer o suporte e ajuda necessária, para que elas consigam enfrentar seus medos seus problemas com mais confiança, otimismo. Entendo que isso vem nos ajudando e serve para qualquer área de atuação.

Como colocar em prática a psicologia em um ambiente com extrema pressão e cobranças por resultados?

Quem escolheu trabalhar com o futebol sabe que o esporte é um ambiente de cobrança inerente à modalidade, ainda mais como é o futebol no Brasil, que é algo apaixonante, em que a criança já nasce tendo um clube. Aqueles que escolheram trabalhar aqui ou no futebol já sabem que isso (cobrança) vem no pacote. Cada um é diferente, pensa diferente e cada um trabalha a questão da ansiedade, da pressão de uma forma. Não sentir (pressão) é ruim, sentir é bom e cada um vai encontrar a forma de interagir com esse tipo de sentimento.

Como você avalia essa pressão do torcedor em relação aos jogadores e suas vidas fora das quatro linhas, com coisas básicas, como ir ao supermercado, passeios com a família e até mesmo utilização das redes sociais?

Acho inaceitável, inadmissível. O futebol tomou um caminho perigoso dentro do país. As pessoas precisam ter o direito de ir e vir, inclusive para a sanidade, a saúde mental das pessoas. É importante que os jogadores tenham espaço para fazer outras coisas. Entendo que foi se criando uma permissividade no futebol, que infelizmente alguém vai sofrer algo muito mais grave, vai morrer um atleta, um familiar de atleta e aí, talvez, as pessoas acordem para isso. Temos uma profissão peculiar, mas somos seres humanos do mesmo jeito e precisamos de momentos de descanso. Penso que o jogador tem um tempo de sair, passear com o filho, ir ao restaurante, ao cinema, namorar. Tudo isso é saudável, forma parte de uma vida mais plena. Quanto mais pleno ele viver, maior a possibilidade de rendimento dele na plenitude.

Como problemas extracampo podem afetar o vestiário?

Depende do tipo de situação. O vestiário é um ambiente muito do jogador. Não entro em vestiário e quando falo isso, é não entrar no ambiente deles se trocarem, deles interagirem, pois acho que ali é necessário ter uma privacidade e uma cumplicidade. Penso que quando você reúne as pessoas certas e existe essa cumplicidade, fatores externos até ajudam a unir mais, pois um sente, vive e se importa com a dor do outro e é algo que vejo muito positivo aqui no Remo. A gente se cuida, se gosta, está todo mundo junto e discordamos, obviamente, mas todos em prol do Remo.

Jogar em casa com essa pressão, que em determinado momento do jogo deixa de ser favorável ao time, tem sido um trabalho realizado através da psicologia?

Não sei se é através da psicologia, mas sou muito do diálogo. Procuro sempre ter empatia, me coloco no lugar dos atletas quando acontece esse tipo de situação e tento mostrar para eles como em algumas formas da gente interagir com isso, mas também procuro me colocar no lugar do torcedor. Como disse anteriormente, a criança sai da barriga da mãe e você já tem um clube. Aquilo vai se enraizando cada vez mais com o passar dos anos. O Brasil é como muitos problemas se refletem em tudo, seja na política, no futebol, na economia. Como o futebol é o esporte mais visto e praticado no país, é inevitável que muitos desses comportamentos se reproduzam no estádio. É mais todo mundo tentar olhar a situação pela perspectiva do outro e tentar entender que talvez, se estivesse na condição do outro, teria um comportamento diferente. É assim que penso e tenho tentado mostrar para eles esse lado.

O Leão volta a campo na segunda-feira (10/07), a partir das 20h30, para enfrentar o Operário (PR), no Baenão. O jogo é válido pela 12ª rodada da Série C e terá transmissão ao vivo pela DAZN. Clique aqui para fazer sua assinatura agora.

O Liberal.com, 08/07/2023

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