A era digital trouxe uma transformação significativa no mercado do futebol, permitindo que torcedores se envolvam ativamente em diversas etapas do processo.
Com a facilidade de pesquisar informações sobre atletas, opinar nas redes sociais e até mesmo sugerir ou reprovar contratações e demissões, o poder popular passou a desempenhar um papel crucial nas decisões dos clubes.
Entretanto, essa participação intensa também gera abusos que podem prejudicar as instituições.
Um exemplo controverso é o Vila Nova (GO), atualmente 8º colocado na Série B, que se destaca negativamente com a contratação de 46 jogadores na temporada. Está entre os clubes que mais exageraram nas movimentações, ao lado de Guarani (SP), Amazonas (AM), Atlético (GO), Vitória (BA), Juventude (RS), Sport (PE), entre outros.
Os times paraenses, com 37 contratações bicolores e 35 azulinas, encontram-se em um patamar mais moderado, mas ainda refletem os excessos e desacertos do mercado, apesar da vigilância dos torcedores munidos das ferramentas digitais.
O mercado do futebol segue como um terreno fértil para a promiscuidade, onde cada clube colhe o que planta – ou o que permite que seja plantado.
Uma evolução que ainda não se concretizou
Até o final do século passado, era comum que dirigentes montassem elencos de forma aleatória, deixando para escolher o técnico depois. Essa prática – vantajosa para empresários – mudou quando os clubes começaram a priorizar a contratação de técnicos para responsabilizá-los pelas escolhas.
Contudo, isso abriu espaço para que empresários influenciassem também os técnicos, criando um ciclo vicioso.
A chegada do executivo de futebol como profissional especializado e, mais recentemente, dos analistas de desempenho e mercado, trouxe esperança de maior eficácia nas contratações. Porém, na prática, essa evolução ainda não se consolidou de forma ampla.
Eficiência
O Botafogo (RJ) tem dado um exemplo de investimentos inteligentes, apostando em serviços de inteligência e plataformas avançadas, identificando atletas de grande potencial que ainda não estão valorizados no mercado e usando sua vitrine para desenvolvê-los – e lucrar posteriormente.
Contratações impulsivas
A maioria dos clubes brasileiros, incluindo Remo e Paysandu, prioriza atender às pressões da torcida, muitas vezes apostando em nomes de impacto imediato. Contudo, os melhores retornos vêm de jogadores menos cotados, como Jaderson (Remo) e Borasi (Paysandu).
Investimentos exorbitantes
Na Série A, os 20 clubes somaram mais de R$ 2 bilhões em contratações para a temporada, um recorde histórico. Foram R$ 2.028.246.000 investidos em 301 reforços, segundo o “Espião Estatístico”, do GE.
Erros históricos
Em 1975, o Leão trouxe o uruguaio Hector De Los Santos para substituir o ídolo Alcino, mas logo descobriu que ele sequer era jogador profissional. Já em 2012, contratou Finazzi, que chegou lesionado (fissura na costela) e, além de não render em campo, gerou prejuízos financeiros com disputas judiciais.
Futebol como negócio
O futebol consolidou-se como o principal produto da indústria do entretenimento, com alta fidelização e crescimento de público. Azulinos e bicolores operam com orçamentos anuais em torno de R$ 70 milhões, mas precisam de mecanismos mais seguros para otimizar esses recursos.
Belém em destaque
A cidade vive um momento especial com o renovado Mangueirão e o crescimento da dupla Re-Pa, agora na Série B.
Coluna de Carlos Ferreira, O Liberal, 23/11/2024