Rodrigo Santana – Foto: Thiago Gomes (O Liberal)
Rodrigo Santana – Foto: Thiago Gomes (O Liberal)

É consenso que a chegada de Rodrigo Santana mudou tudo no Baenão. Os técnicos anteriores, Ricardo Catalá e Gustavo Morínigo, que em teoria estariam em “prateleiras mais altas” na profissão, não conseguiram tirar do elenco o que ele fez.

Muita coisa influenciou nessa melhora, desde a necessidade extrema de os jogadores darem uma resposta, da mudança de estratégia, a chegada de reforços e, obviamente, o trabalho do novo comandante.

Sua permanência para 2025 é uma questão imediata por parte da diretoria, que conta com o desejo do treinador de ficar, faltando apenas um acerto – que tudo leva a crer que acontecerá.

Em entrevista concedida esta semana, Santana falou sobre a caminhada até o tão sonhado acesso à Série B, a distância da família, a mudança de chave dentro do clube, os desafios que vêm por aí na próxima temporada, a relação com outros treinadores, entre outros assuntos.

Muito se falou que a melhora do Remo passou por um trabalho fora de campo, de ganho de confiança. O que gerou esse ganho de confiança foram os resultados em campo ou foi um trabalho concomitante?

O que trouxe a confiança para os jogadores foi um sistema de jogo que passasse mais confiança, que eles se sentissem mais seguros para jogar, para arriscar. Acho que o primordial foi isso: encontrar uma forma de jogo que trouxesse essa confiança para eles, aí isso facilitaria uma evolução no desempenho deles.

Quando você veio para o Remo, havia uma desconfiança sobre você, que passava mais por situações extracampo do que de resultados. Por tudo o que aconteceu até a conquista do acesso, do jeito que foi, esse momento entra nos momentos decisivos de sua carreira que podem significar uma mudança de patamar?

Sim, havia uma desconfiança e tinha plenas convicções que isso não afetaria o meu trabalho. Infelizmente, hoje, o futebol em si, o externo muitas das vezes interfere no interno, mas essa diretoria também manteve suas convicções, me deu total autonomia para trabalhar e o resultado acabou vindo. São situações que acontecem fora de campo, que muita gente traz para dentro de um dia a dia de trabalho e pode ser muito prejudicial. Fiquei muito feliz e grato à diretoria do Remo por ter permitido que conseguisse conduzir aqui o trabalho de uma forma bem leve, tranquila, com convicção, atender aos meus pedidos sempre, inclusive, até das buscas de contratações. Graças a Deus, todos, não apenas a diretoria, como eu, os atletas, todos, inclusive a torcida, a imprensa, ficaram felizes porque, embora cada um tenha suas opiniões, todos torciam pelo sucesso do Remo e o mais importante foi que o maior venceu, porque o clube está acima de tudo, de todos que estão envolvidos aqui.

Na última vez em que esteve na Série B, o Remo teve muitas dificuldades e caiu. Há um choque de realidade que passa pela necessidade de maior estruturação e investimento?

Vejo uma grande dificuldade na logística, porque a Série B demanda muitos jogos, um campeonato bastante longo, com viagens dificílimas. Se você não conseguir montar um elenco competitivo, porque a rotatividade de jogadores tem que ser muito grande e o nível não pode baixar, não pode cair de um jogo para o outro e com essa sequência grande de jogos, essa maratona toda de viagem, faz com que seja difícil manter a performance lá no alto. Então, tem que ter um estudo muito interessante em relação à forma de montar a equipe, de saber usar a logística para ter um mínimo de desgaste possível, porque é uma competição longa, com equipes bem preparadas e o nível é mais alto.

Pessoalmente, qual o impacto que teve sobre você e sua família esses poucos e intensos meses no futebol do Norte?

A parte mais difícil é ficar longe da família, da esposa, dos filhos, acompanhar o crescimento deles, o desenvolvimento deles, de escola, de ir para casa, que a gente sempre atua bastante, os passeios, a própria esposa no nosso dia a dia. Às vezes, quando a gente chega em um dia ruim, quando o resultado não vem, ela está ali, nos tira um pouco de dentro do trabalho, tem conversas, refeições juntos. Esse tempo com a família nos fortalece para voltar mais forte e essa distância sempre machuca bastante. Minha família já esteve Belém por 2 vezes, em jogos decisivos. Vencemos, eles trouxeram uma energia muito forte. A gente sente muita saudade e, ao mesmo tempo, foca ao máximo no serviço para não ter tanto tempo de ficar em casa com saudade. Então, um mix de emoções, eles são fundamentais na minha vida, são minha inspiração. Então vejo que o segredo também de um bom trabalho é estar bem no seu casamento, estar bem com sua esposa, estar bem com seus filhos. Contribui demais para a gente ter uma cabeça muito boa para estar desenvolvendo nosso dia a dia.

Na entrevista coletiva após o acesso, você citou nominalmente Ricardo Catalá e Gustavo Morínigo como tendo papéis importantes na temporada azulina, algo que não é corriqueiro no futebol. Costuma haver essa troca de informações entre treinadores após mudanças de comando, uma ajuda entre profissionais?

Ah, sim. Vejo o futebol como um processo e me importo muito em deixar legados para o próximo treinador. Acho que se vier aqui e der meu melhor pelo Clube do Remo, tenho certeza que no momento que sair daqui, o treinador que chegar vai encontrar um ambiente melhor, uma estrutura melhor e vai conseguir desenvolver melhor. Quando esse sair, vai chegar outro e assim as coisas vão melhorando para os clubes. Me preocupo muito com isso, gosto de dar o mérito para as pessoas e reconhecer sempre o que a pessoa faz de bom. Futebol é um processo, passaram tanto Catalá quanto Morínigo aqui e, com certeza, deixaram algo de bom. Sempre procuro ver o “copo cheio”. Não tenho nenhum tipo de vaidade em relação a isso, vejo que nossa classe de treinadores não é tão unida como teria que ser. Alguns outros treinadores que sou amigo, quando substituo, eu ligo, converso, pergunto, acho que isso é importante. A grande maioria dos treinadores, muitas das vezes, tem um certo receio de ligar, de perguntar. Nossa classe, infelizmente, não é tão unida e isso é uma pena. Tenho muitos amigos como treinador, principalmente os treinadores de Série A, principalmente os mais experientes, os quais aprendo demais. Acho que a gente precisava ser um pouquinho mais unido. Acho que nós, treinadores brasileiros, estaríamos em uma situação até um pouquinho melhor, nas prateleiras de cima lá.

O acesso nas divisões inferiores é o mais importante, mas quem está em uma competição sempre pensa em título. Depois do relaxamento pela primeira conquista (acesso), agora é o momento de tentar buscar a taça?

Sim, muitos interpretam que o objetivo é o acesso. Concordo, é importante para a valorização do clube, premiação, estruturação, uma divisão maior, mas tendo a possibilidade de vencer, de buscar o título, é melhor ainda. Fazer mais história ainda, ser campeão, a palavra já diz. A gente não pensa diferente, se temos condições vamos brigar por esse título, sim, sabendo ainda mais da forma que foi para chegar aqui. Se tivermos condições, vamos brigar pelo título. É a mesma coisa como se estivesse jogando a Copa Libertadores ou a Copa do Brasil, o que interessa é o título!

O Leão volta a campo neste sábado (05/10), a partir das 17h30, para enfrentar o Botafogo (PB), no estádio Almeidão, em João Pessoa (PB). O jogo é válido pela 6ª rodada da 2ª fase da Série C e terá transmissão ao vivo pela DAZN. Clique aqui para fazer sua assinatura agora.

Diário do Pará, 05/10/2024

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