Família, futebol, profissão e clube do coração. Uma combinação em que tudo se mistura, com ligações fortes, laços duradouros e que fica exposta de um jeito único e especial.
É dessa forma que os irmãos Marquinho e Hamilton Oliveira, trabalham há mais de 20 anos e que viralizaram nas redes sociais, após o acesso do Remo à Série B do Campeonato Brasileiro, com uma bandeira empunhada, mostrando todo o orgulho de trabalhar no time do coração.
Com mais de 30 anos trabalhando no Remo, o enfermeiro Marco Oliveira, o Marquinho, iniciou uma “tradição” no Baenão. Todas as vezes em que o Remo é campeão ou conquista um acesso, ele sai correndo com uma bandeira empunhada. O gesto fez com que o enfermeiro ficasse conhecido por vários torcedores azulinos, principalmente pela corrida que fez com a bandeira no acesso do Remo à Série C, na temporada 2015, contra o Operário (PR), no Mangueirão.
Marquinhos comentou como surgiu essa situação e como isso acabou virando uma “cobrança” interna dos companheiros de trabalho.
“Quem vive no clube, sabe. Somos profissionais, mas também somos torcedores. Quando a fase está ruim, sofremos muito mais, na cobrança, e também por estarmos aqui dentro. A Série D foi sofrida, não conseguíamos sair dela e pensei em levar a bandeira, de extravasar, de jogar tudo de ruim do ano e (começar uma) vida nova. Sempre quando acaba o jogo, corremos, abraçamos jogadores e decidi fazer diferente, vou dar uma volta olímpica no Mangueirão, e fiz. A bandeira marcou. Depois, passei a ser cobrado para levar a bandeira em finais regionais e jogos decisivos”, disse.
As coisas mudaram no acesso azulino deste ano, contra o São Bernardo (SP), no jogo em que valia a subida à Série B. Marquinho ficou de fora por motivo de saúde, mas engana-se que a tradição foi deixada para trás no Baenão. Seu irmão, Hamilton Oliveira, mais conhecido como “Bombinha”, fez questão de deixar “tudo em casa” e homenageou o irmão, ao correr com a bandeira, após o triunfo remista contra o adversário paulista.
Marquinho comentou sobre a situação e da felicidade em perceber a homenagem feita pelo irmão.
“Tive um problema de plantão e também de saúde e não deu para ir ao jogo. Ia para o estádio, mas um amigo nosso falou que o Bombinha tinha deixado uma bandeira e fiquei com aquilo na cabeça: ‘ele vai correr no campo’. Já sabia que isso poderia ocorrer”, falou.
Bombinha falou da sensação em poder deixar a tradição seguir e de quebra, lembrar do irmão, que o trouxe para o Baenão para ajudar no dia a dia do clube que tanto amam.
“Estava aqui no Baenão, horas antes da partida. Pensava que ele iria ao jogo, mas nosso companheiro de trabalho, o Ramon, disse que eu que iria à partida. Pensei: ‘hoje vamos conseguir o acesso, a gente vai subir, e a bandeira? Alguém tem que dar continuidade, a tradição continua’. Aí fui e comprei uma bandeira, deixei ela quieta, pronta para entrar em cena e deu tudo certo. Foi uma honra substituir o Marquinho. A bandeira é um símbolo! Ele é tudo, ele representa o torcedor, diretoria, o Estado do Pará”, falou Bombinha.
Entre conflitos de família, bagunças, além do amor pelo Remo e à profissão de enfermeiro, existe também muito companheirismo entre os irmãos. Marquinho chegou ao Leão em 1992, viu de perto o Remo na Série A e passou pelo momento mais difícil do clube, em que alternava entre ano na Série D e outro sem jogar.
Marquinho é grato ao time do coração e lembrou de um fato curioso, em que pagou seu curso de técnico em enfermagem com material doado pelo Leão.
“Devo muito ao Remo. Quando cheguei aqui, tinha que estudar e, na época, minhas condições financeiras não eram boas. O Remo ajudou a me formar em técnico de enfermagem. Conseguia roupas do clube com a diretoria e dava ao dono do curso os uniformes que o clube me doava. Paguei meu curso todo de enfermagem com a ajuda do Remo, graças a Deus. Depois, as coisas foram melhorando, saí para fazer faculdade, retornei e estou aqui até hoje”, relembrou.
O famoso “Bombinha” é irreverente e é conhecido pela forma como corre para atender os jogadores em campo. Com mais de 20 anos de Remo, ele contou do seu sentimento pelo clube azulino e relembrou de pessoas importantes em sua trajetória.
“Cheguei no Remo em 2022, mas cresci sendo torcedor do Remo. Quando meu irmão estava aqui e precisou de alguém, fui chamado e queria vivenciar o Remo. Graças ao Marco, junto ao saudoso Fernando Oliveira e o doutor Jorge (Silva), fiquei no clube. Tenho outros empregos, mas trabalhar no Remo é único. Fico em dúvida se um dia ter que largar algum emprego, posso largar outros, mas o Remo não”, comentou.
O Liberal.com, 27/10/2024